segunda-feira, 2 de novembro de 2015

trechos de O Poder do Agora

O único problema é a própria mente limitada pelo tempo. - 64

Você não pode estar infeliz e completamente presente no Agora, ao mesmo tempo. - 65

No momento em que a nossa atenção se volta para o Agora, percebemos uma presença, uma serenidade, uma paz. Não dependemos mais do futuro para obtermos plenitude e satisfação, não o olhamos mais como salvação. Consequentemente, não estamos mais presos aos resultados. Nem o fracasso nem o sucesso têm o poder de alterar o estado interior do ser. - 71

A poluição do planeta é apenas um reflexo externo de uma poluição interior psíquica gerada por milhões de indivíduos inconscientes, sem a menor responsabilidade pelos espaços que trazem dentro de si. - 80

Se não há mesmo nada a fazer e você não pode mudar a situação, então aceite o aqui e agora totalmente, abandonando toda a resistência interior. O falso e infeliz  eu interior, que adora sentir-se miserável, ressentido ou com pena de si mesmo, não consegue mais sobreviver. Isso se chama rendição. A rendição não é uma fraqueza. Há uma grande força nela. Somente alguém que se rendeu tem poder espiritual. Através da rendição, você se livrará da situação internamente. É possível que você perceba uma mudança na situação sem que tenham sido necessários maiores esforços da sua parte. De qualquer forma, você está livre.
Ou haverá algo que você "deveria" estar fazendo mas não está? Levante-se e faça agora. Ou, em vez disso, aceite totalmente a sua inatividade, preguiça ou passividade neste momento, se esta é a sua escolha. Mergulhe nela por inteiro. Desfrute-a. Seja tão preguiçoso ou inativo quanto puder. Se você fizer isso conscientemente, logo sairá dela. Ou talvez não. Em qualquer dos casos, não há nenhum conflito interior, nenhuma resistência, nenhuma negatividade.
Você está sofrendo de estresse? Pensa tanto no futuro que o presente está presente está reduzido a um meio para chegar lá? O estresse é causado pelo estar "aqui" embora se deseje estar "lá", ou por se estar no presente desejando estar no futuro. É uma divisão que corta a pessoa por dentro. Criar e viver com essa divisão é insano. O fato de que todas as pessoas estão agindo assim não torna ninguém menos insano. Se você não pode fugir disso, tem de se movimentar rápido, trabalhar rápido, ou até mesmo correr, sem se projetar no futuro e sem resistir ao presente. Quando se movimentar, trabalhar e correr, faça tudo por inteiro. Desfrute o fluxo de energia, a alta energia desse momento. Agora não há mais estresse, não há mais divisão por dois, apenas o movimento, a corrida, o trabalho. Desfrute essas atitudes. Ou você também pode abandonar tudo e se sentar num banco do parque. Mas, ao fazê-lo, observe a sua mente. Pode ser que ela diga: "Você devia estar trabalhando. Está perdendo o seu tempo." Observe a mente. Sorria para ela. - 84-85

Para testar o grau de presença, alguns mestres zen tornaram-se, conhecidos por se aproximarem dos alunos por trás e, de súbito, atingi-los com um bastão. Que susto! Se o aluno estivesse totalmente presente e em estado de alerta, se tivesse "mantido seu lombo cingido e sua lamparina acesa", que é uma das analogias de que Jesus se utiliza para falar da presença, o aluno teria percebido o mestre se aproximar e o teria imobilizado ou se desviado para o lado. Mas, se o aluno fosse atingido, significaria que estava mergulhado em seus pensamentos, o que quer dizer, ausente, inconsciente.
Para ficarmos presentes no dia-a-dia, ajuda muito estarmos profundamente enraizados dentro de nós. Do contrário, a mente, que tem um impulso inacreditável, nos arrastará com ela, como um rio caudaloso. - 95

"Nem só de pão vive o homem". - 132

A humanidade está sob uma grande pressão para se desenvolver, porque é a única chance de sobreviver como raça. Isso vai afetar cada aspecto da nossa vida e de nossos relacionamentos. Nunca antes os relacionamentos foram tão problemáticos e oprimidos por conflitos como hoje em dia. Você deve ter notado que eles não aparecem para nos fazer felizes ou satisfeitos. Se você continuar buscando um relacionamento como forma de salvação, vai se desiludir cada vez mais. Mas, se você aceitar que o relacionamento está aqui para tornar você consciente em lugar de feliz, então o relacionamento vai lhe oferecer a salvação e você estará se alinhando com a mais alta consciência que quer nascer neste mundo. Para os que se mantiverem apegados aos padrões antigos, haverá cada vez mais sofrimento, violência, confusão e loucura. - 158

Enquanto você construir a sua identidade em função do sofrimento, não conseguirá se livrar dele... é torná-lo consciente. - 167

Você conhece a história de Banzan? Antes de se tornar um grande mestre zen, ele passou muitos anos perseguindo a iluminação, mas ela o iludia. Então, um dia, enquanto andava pelo mercado, ouviu uma conversa entre um açougueiro e seu freguês. "Me dê o melhor pedaço de carne que você tem aí", disse o freguês. E o açougueiro respondeu: "Todo pedaço de carne que tenho é o melhor. Não há nenhum pedaço de carne aqui que não seja o melhor." Depois de ouvir isso, Banzan se tornou iluminado.
Posso ver você esperando alguma explicação. Quando aceitamos o que é, todo pedaço de carne - todo momento - é o melhor. Isso é iluminação. - 189-190

Somente aqueles que transcenderam o mundo conseguem criar um mundo melhor. - 196

Querer aliviar o sofrimento do mundo é uma coisa muito nobre, mas lembre-se de não se concentrar exclusivamente no exterior, do contrário você vai sentir frustração e desespero. - 198

Quando você estiver transformando, todo o seu mundo fica transformado, porque o mundo é somente um reflexo. - 210-211

Não culpe a vida por tratar você tão mal, mas também não se culpe de nada. - 211


O Poder do Agora - Um guia para a iluminação espiritual - Eckhart Tolle - Ed. Sextante, 2002, 8ªed.

terça-feira, 25 de agosto de 2015

Dr. Cláudio sobre a arte em geral - Trecho de O Ateneu

"Arte, estética, estesia é a educação do instinto sexual.

A manutenção da existência indivídua tem a razão de ser no instinto de vitalidade da espécie. O momento presente das gerações nada mais é que a ligação prolífica do passado com a posteridade. E a razão de ser das espécies? A indagação não perscruta.

Para que o indivíduo perdure, momento genésico da existência específica no tempo, é indispensável adaptar-se às imposições do meio universal. O rio a correr não despreza o detalhe do mais insignificante remanso, nem pode sofismar o obstáculo do menor rochedo no alvéu. O critério inconsciente do instinto é o guia da adaptação.

O esforço da vida humana, desde o vagido do berço até o movimento do enfermo, no leito de agonia, buscando uma posição mais cômoda para morrer, é a seleção do agradável. Os sentidos são como as antenas salvadoras do inseto titubeante; vão ao encontro das impressões, avisadores oportunos e cautelosos.

A cada mundo de sensações notáveis corresponde um sentido. Os sentidos, teoricamente delimitados, são cinco, múltipla transformação de processo de um único - o tato, exatamente o sentido rudimentar das antenas.

Faz-se, tateando instintivamente a procura dos agradáveis: agradável visual, agradável gustativo, agradável tangível, em suma. O agradável é essencialmente vital; se é às vezes funesto, é porque o instinto pode ser atraiçoado pelas ilusões.

A perfectibilidade evolutiva dos organismos em função, manifestando-se prodigiosamente complexa, no tipo humano, corresponde à revelação, na ordem animal, do misterioso fenômeno personalidade, capaz de fazer a crítica do instinto, como o instinto faz a crítica sensação.

A informação de reportagem de cada sentido não desperta, portanto, no homem a atividade cerebral dos impulsos de preferência, de repugnância, simplesmente, como nos outros animais; mas amplia, pela psicologia inteira dos fenômenos espirituais, a variedade infinita das comparações permutadas de mil modos na unidade do espírito como as peças de um jogo maravilhoso sobre o mesmo pano.

Duas são as representações elementares do agradável realizado: nutrição e amor.

Os animais inferiores, não favorecidos por um razoável coeficiente de progresso, produzem secularmente a condição da inferioridade; olham, tocam, farejam, ouvem, não provam com demasiado escrúpulo e devoram grosseiramente para depois amar, como sempre fizeram.

O homem, por desejo de nutrição e de amor, produziu a evolução histórica da humanidade.

A nutrição reclamou a caçada fácil - inventaram-se as armas; o amor pediu um abrigo, ergueram-se as cabanas. A digestão tranquila e a perfilhação sem sobressaltos precisaram de proteção contra os elementos, contra os monstros, contra os malfeitores - os homens tacitamente se contrataram para o seguro mútuo, pela força maior da união: nasceu a sociedade, nasceu a linguagem, nasceu a primeira paz e a a primeira contemplação. E os pastores viram pela vez primeira que havia no céu a estrela Vésper, expandida e pálida como o suspiro.

Mas era preciso que fossem leitos de amor as crinas de ouro e fogo dos leões, e que houvessem marfim, metais luzentes, pedraria, sobre a alvura láctea da carne amada, que não bastavam beijos para vestir; era preciso deliciar a gustação, como requinte das estranhezas. E os homens levaram a conquista aos reis da floresta, ao ventre do solo; foram colher aos ares os íncolas mais raros, emplumados de luz como criações canoras do sol; e foram buscar às ondas os meus esquivos viajores do abismo, singrando céleres, fantásticos, na sombra azul, em cauda, um reflexo vago de escamas - para morder-lhes a vida.

Urgiu ainda a fome, urgiu o amor e veio a guerra, a violência, a invasão. Curvaram-se os cativos ao látego vencedor e foram abatidas as escravas sob a garra da lascívia sanguinária, faminta de membros avulsos, olhos sem alma, lábios sem palavra, formas sem vontade, pretexto miserável de espasmos. Formaram-se os ódios de raça, as opressões de classe, as corrupções vingadoras e demolidas.

Mas a cisma evoluiu também, aquela cisma poética da pastoral primeva que buscara os astros no céu para adereço dos idílios. O fundo tranquilo e obscuro das almas, aonde não chefa o tumultuar de vagas da superfície, inflamou-se de fosforescências; geraram-se as auréolas dos deuses, coalharam-se os discos das glórias olímpicas: as religiões nasceram.

Mas era preciso que fosse palpável o espectro da divindade; as rochas descascaram-se em estátuas, os metais se fizeram carne e houve cultos, houve leis, vieram profetas e pontífices ambiciosos. E esta evolução da cisma que fora amante, feita instrumento da tirania, deu lugar às práticas de terror, aos apostolados do morticínio.

Mas uma lira ficara da geração primeira de cismadores, e as cordas cantavam ainda e os sons falaram no ar as epopéias do Oriente e da Grécia. Roubou-se aos sacerdotes tiranos o monopólio dos deuses para jungi-los à atrelagem do metro; o que levassem, através dos séculos, o carro triunfal da estrofe, onda sonora de vibrações imortais.

E os esculpidores dos ídolos legaram o segredo da fábrica revelando que vinham de uma molde de barro aquelas arrogâncias de bronze, que se fazem deuses como as ânforas. E os artistas modernos recomeçaram, chamando a religião ao atelier, como um modelo de hora paga; e gravaram em tinta, pelo muros, as visões místicas da crença.

A nitidez artística da formas fizera crer aos homens que morava realmente um espírito sagrado na porosidade do mármore, e que realmente havia proporções infinitas uma tela de olimpos e paraísos, onde as cores do antropomorfismo artístico viviam soberanas, olhando o mundo lá embaixo, vazando a urna providencial das penas e das alegrias.

Decaídas as fantasias sentimentais, reformou-se o aspecto do mundo. Os deuses foram banidos como efeitos importunos do sonho. Depois da ordem em nome do Alto proclamou-se a ordem positivamente em nome do Ventre. A fatalidade nutrição foi erigida em princípio: chamou-se indústria, chamou-se economia política, chamou-se militarismo. Morte aos fracos! Alcançando a bandeira negra do darwinismo espartano, a civilização marcha para o futuro, impávida, temerária, calcando aos pés o preconceito artístico da religião e da moralidade.

Sobrevive, porém, o poema consolador e supremo, a eterna lira...

Reinou primeiro o mármore e a forma; reinaram as cores e o contorno, reinam agora os sons - a música e a palavra. Humanizou-se o ideal. O hino dos poetas do mármore, do colorido, que remontava ao firmamento, fala agora aos homens, advogado enérgico do sentimento.

Sonho, sentimento artístico ou contemplação, é o prazer atento da harmonia, da simetria, do ritmo, do acordo das impressões, com a vibração da sensibilidade nervosa. É a sensação transformada.

A história do desenvolvimento humano nada mais é do que uma disciplina longa de sensações. A obra de arte é a manifestação do sentimento.

Dividindo-se as sensações em cinco espécies de sentidos, devem os sentimentos corresponder a cinco espécies e igualmente as obras de arte.

Da sensação acústica vem a estesia acústica: sentimento nos sons, nas palavras - eloqüência e música; da sensação da vista, a estesia visual, o sentimento na forma, no traço e no colorido - escultura, arquitetura, pintura; da sensação palatal e olfativa nasce o sentimento do gosto e do perfume - artes menos consideradas pela relativa inferioridade dos seus efeitos. A sensação do tato, secunda por todas as outras, dá lugar ao sentimento complexo do amor, arte das artes, arte matriz, razão de ser de todas as espécies de estesia.

O primeiro momento contemplativo de um amoroso foi o advento da estética, no gozo visual das linhas da formosura, na delícia auditiva de uma expressão inarticulada, que fosse emitida com expressão, na comoção de um contato, na aspiração inebriante do aroma indefinido da carne. A obra de arte do amor é a prole; o instrumento é o desejo.

Depois da arte primitiva e fundamental do tato, a arte do ouvido. A obra de arte é a fresa sentida, hábil para produzir emoção; o instrumento é a linguagem.

Esta arte devia mais tarde ramificar-se em eloqüência propriamente e poesia popular, graças à aproximação híbrida de terceira arte, do ouvido, a música.

Com o progresso humano, o sentimento artístico da simetria e da harmonia destacou-se analiticamente da arte de amar. E, depois da arte primordial, descendente imediata do instinto erótico, da qual se desprendera, sob a forma selvagem das interjeições primitivas, a arte da eloqüência; e; em seguida, sob a forma de expressões homométricas, a poesia popular e a primeira música; nasceram as artes intencionais, de imitação, da escultura da arquitetura, do desenho. Depois da poesia popular amorosa ou heróica, veio a rapsódia.

Ainda mais, segundo um traçado naturalíssimo de filiação, o sentimento da simetria, trasladado para a esfera das relações sociais, serviu de plano à organização das religiões, filhas do pavor, e das moralidades, invenção das maiorias de fracos. Com o predomínio insensato das religiões, o amor deixou de ser um fenômeno, passou a ser um ridículo ou uma coisa obscena.

Por um raciocínio de retrocesso, se ponderarmos que a moralidade é a organização simétrica da fraqueza comum, que a religião é a organização simétrica do terror, que a simetria, isto é, harmonia e proporção, é a norma artística das imitações plásticas da ingênua admiração da criatura primitiva, e que esta admiração prazenteira, testemunhada por uma tentativa de desenho ou de estátua, por um canto popular ou por uma interjeição veemente, nada mais é do que um modo acentuado de um esforço de atenção, e que a primeira atenção dos homens do princípio - a lenda de Adão que o diga - devia ser do indivíduo de um sexo pra o indivíduo de outro sexo, teremos averiguado o aforismo paradoxal de que a arte subjetivamente, o sentimento artístico, nas suas mais elevadas, mais etéreas
manifestações, é simplesmente - a evolução secular do instinto da espécie.


Esta é a sua grandeza, e por isso vai zombando, através das idades, das vicissitudes tempestuosas do combate pela nutrição, dos próprios exasperos homicidas do amor.

A arte é primeiro espontânea, depois intencional.

Manifesta-se primeiro grosseiramente, por erupções de sentimento, e faz o amor concreto, a interjeição, a eloquência rudimentar, a poesia primitiva, o primitivo canto. Manifesta-se mais tarde, progressivamente, por efeitos de cálculo e meditação e dá o epos¹, a eloquência culta, a música desenvolvida, o desenho, a escultura, a arquitetura, a pintura, os sistemas religiosos, os sistemas morais, as ambições de síntese, as metafísicas, até as formas literárias modernas, o romance, feição atual do poema no mundo.

As manifestações espontâneas são coevas de todas as sociedades; a poesia popular, por exemplo, não desaparece, nem a eloquência, ainda menos o amor. As manifestações intencionais, ampliações, aperfeiçoamentos do modo primitivo de expressão sentimental, sujeitam-se aos movimentos e vacilações de tudo que progride.

O coração é o pêndulo universal dos ritmos. O movimento isócrono do músculo é como o aferidor natural das vibrações harmônicas, nervosas, luminosas, sonoras. Graduam-se pela mesma escala os sentimentos e as impressões do mundo. Há estados de alma que correspondem à cor azul, ou às notas graves da música; há sons brilhantes como a luz vermelha, que se harmonizam no sentimento com a mais vívida animação.

A representação dos sentimentos efetua-se de acordo com estas repercussões.

O estudo da linguagem demonstra.

A vogal, símbolo gráfico da interjeição primitiva, nascida espontaneamente e instintivamente do sentimento, sujeita-se à variedade cromática do timbre como os sons dos instrumentos de música. Gradua-se, em escala ascendente u, o, a, e, i, possuindo uma variedade infinita de sons intermediários, que o sentimento da eloquência sugere aos lábios, que se não registram, mas que vivem vida real nas palavras e fazem viver a expressão, sensivelmente enérgica, emancipada do preceito pedagógico, de improviso, quase inventada pelo momento.

Há ainda na linguagem o ritmo de cada expressão. Quando o sentimento fala, a linguagem não se fragmenta por vocábulos, como nos dicionários. É a emissão de um som prolongado, a crepitar de consoantes, alteando-se ou baixando, conforme o timbre vogal.

O que move o ouvinte é uma impressão de conjunto. O sentimento de uma frase penetra-nos, mesmo enunciado em desconhecido idioma.

O timbre vogal, o ritmo da frase dão alma à elocução. O timbre é o colorido, o ritmo é a linha e o contorno. A lei da eloquência domina na música, colorido e linha, seriação de notas e andamentos; domina na escultura, na arquitetura, na pintura: ainda a linha e o colorido.

Na sua qualidade de representação primária do sentimento, depois do fato do amor, a eloquência é a mais elevada das artes. Daí a supremacia das artes literárias - eloquência escrita.

A eloquência foi a princípio livre, fiel ao ritmo do sentimento, influenciada pela música monótona dos mais antigos tempos, cadenciou-se em metro regular e monótono como a musica. Aproveitada como recurso mnemônico, libertou-se da música, guardando, porém, a forma do metro igual e da quantidade equivalente, que havia de ser um dia a metrificação da sílaba, que havia de dar em resultado a monstruosidade de rima, o calembur feito milagre de perfeição.

A música seguiu à parte a sua evolução.

Na arte da eloquência da atualidade acentua-se uma reação poderosa contra o metro clássico; a crítica espera que dentro de alguns anos o metro convencional e postiço terá desaparecido das oficinas da literatura. O sentimento encarna-se na eloquência, livre como a nudez dos gladiadores e poderoso. O estilo derribou o verso. As estrofes medem-se pelos fôlegos do espírito, não com o polegar da gramática.

Hoje, que não há deuses nem estátuas, que não há templos nem arquitetura, que não há dies irae² nem Miguel Ângelo; hoje que a mnemônica é inútil, o estilo triunfa pela forma primitiva, pela sinceridade veemente, como nos bons tempos em que o coração para bem amar e o dizer não precisava crucificar a ternura às quatro dificuldades de um soneto.

Qual a missão da arte? Originária da propensão erótica fora do amor, a arte é inútil - inútil como o esplendor corado das pétalas sobre a fecundidade do ovário. Qual a missão das pétalas coradas? De que nos serve a primavera ser verde? As aves cantam. Que se aproveita do cantar das aves?  A arte é uma consequência e não um preparativo. Nasce do entusiasmo da vida, do vigor do sentimento, e o atesta. Agrada sempre, porque o entusiasmo é contagioso como o incêndio. A alma do poeta invade-nos. A poesia é a interpretação de sentimentos nossos. Não tem por fim agradar. 

E, depois, reclamar títulos de utilidade às divagações graciosas de uma energia da alma, que significa em primeira manifestação a própria perpetuidade da espécie?!

Além de inútil, a arte é imoral. A moral é o sistema artístico da harmonia transplantado para as relações da coletividade. Arte sui generis³. Se é possível eficazmente o regime social das simetrias da justiça e da fraternidade, o futuro há de provar. Em todo o caso é arte diferente e as artes não se combinam senão em produtos falsos, de convenção.

Poema intencionalmente moral é o mesmo que estátua polícroma, ou pintura em relevo. Apenas uma coisa possível, nada mais; há também quem faça flores, com asas de barata e pernas.

A verdadeira arte, a arte natural, não conhece moralidade. Existe para o indivíduo sem atender à existência de outro indivíduo. Pode ser obscena na opinião da moralidade: Lêda; pode ser cruel: Roma em chamas, que espetáculo!

Basta que seja artística.

Cruel, obscena, egoísta, imoral, indômita, eternamente selvagem, a arte é a superioridade humana - acima dos preceitos que se combatem, acima das religiões que passam, acima da ciência que se corrige; embriaga como a orgia e como o êxtase.

E desdenha dos séculos efêmeros."

¹ Epos - termo de origem grega que designava de início a palavra, o discurso; depois passou a indicar o discurso heróico, principalmente os poemas homéricos - a Ilíada e a Odisséia. Foi nesse sentido de poema épico, epopéia, que a palavra foi incorporada pelo latim.


² Dies irae - locução latina, significa "dia da ira" ou "dia do juízo final".

³ Sui generis - expressão latina que significa próprio, específico, singular, peculiar.


O Ateneu / Raul Pompéia; organização Célia A. N. Passoni - 2ª ed. - São Paulo: Núcleo, 1996. - (Coleção Núcleo de Literatura). 

Trecho: 80-85

sexta-feira, 7 de agosto de 2015

A morte como conselheira

Meu pai compartilhou esse texto comigo e resolvi compartilhar aqui


Rubem A. Alves
Lembra-te,
Antes que cheguem os maus dias, e se rompa o fio de prata, e se despedace o copo de ouro,
E se quebre o cântaro junto à fonte, e se desfaça a roda junto ao poço...
Elesiastes 12, 1-8

A vida está cheia de rituais para exorcizar a morte. E, no entanto, é tudo mentira. Certo está o poeta.
Mas o que eu não fui, o que eu não fiz, o que nem sequer sonhei; o que só agora vejo que deveria ter feito, o que só agora claramente vejo que deveria ter sido isto é que é morto para além de todos os Deuses...

Pode ser que para outro mundo eu possa levar o que sonhei.
Mas poderei eu levar para outro mundo o que me esqueci de sonhar?
Esses sim, os sonhos por haver, é que são o cadáver. Enterro-os no meu coração para sempre, para todo o tempo, para todos os universos... (Álvaro de Campos, Poesias, “Na noite terrível...”)
Não, não, a Morte não é algo que nos espera no fim. É companheira silenciosa que fala com voz branda, sem querer nos aterrorizar, dizendo sempre a verdade e nos convidando à sabedoria de viver.
O que ela diz? Coisas assim.
“Bonito o crepúsculo, não? Veja as cores, como são lindas e efêmeras... Não se repetirão jamais. E não há formas de segurá-las. Inútil tirar uma foto. A foto será sempre a memória de algo que deixou de ser... E esta triteza que a beleza dá? Talvez porque você seja como o crepúsculo...
É preciso viver o bastante. Não é possível colocar a vida numa caderneta de poupança...”
“Você sabe que horas são? Está ficando frio... E as cores do outono? Parece que o inverno está chegando...”

“O que é que você está esperando? Como se a vida ainda não tivesse começado... Como se você estivesse à espera de algum evento que vai marcar o início real da sua vida: formar, casar, criar os filhos, separar da mulher ou do marido, descobrir o verdadeiro amor, ficar rico, aposentar... Como se os seus instantes presentes fossem provisórios, preparatórios. Mas eles são a única coisa que existe...”
A branca fala da Morte não nos aterroriza por nos falar da Morte. Ela nos aterroriza por nos falar da Vida. Na verdade, a Morte nunca fala sobre si mesma. Ela sempre nos fala sobre aquilo que estamos fazendo com a própria Vida, as perdas, os sonhos que não sonhamos, os riscos que não tomamos (por medo), os suicídios lentos que perpetramos.

A morte tem o poder de colocar todas as coisas nos seus devidos lugares. Longe do seu olhar, somos prisioneiros do olhar dos outros, e caímos na armadilha dos seus desejos. Deixamos de ser o que somos, para ser o que eles desejam que sejamos. Diante da Morte, tudo se torna repentinamente puro. Não há lugar para mentiras. E a gente se defronta então com a Verdade, aquilo que realmente importa. Para ter acesso à nossa Verdade, para ouvir de novo a voz do Desejo mais profundo, é preciso tornar-se um discípulo da morte. Pois ela só nos dá lições de Vida se a acolhemos como amiga. “A morte é nossa eterna companheira” – dizia D. Juan, o bruxo. “Ela se encontra sempre à nossa esquerda, ao alcance do braço. Ela nos olha sempre, até o dia em que os toca. Como é possível a alguém sentir-se importante, sabendo que a morte o contempla? O que você deve fazer, ao se sentir impaciente com alguma coisa, é voltar-se para a sua esquerda e pedir que sua morte o aconselhe. Estamos cheios de lixo! E a morte é a única conselheira que temos. Sempre que você se sentir, como acontece sempre, que tudo está indo de mal a pior e que você se encontra a ponto de ser aniquilado, volte-se para a sua morte e lhe pergunte se isso é verdade. Sua morte lhe dirá que você está errado, que nada realmente importa, fora do seu toque. Ela lhe dirá: Ainda não o toquei”.

Houve um tempo em que nosso poder perante a Morte era muito pequeno. E, por isso, os homens e as mulheres dedicavam-se a ouvir a sua voz e podiam tornar-se sábios na arte de viver. Hoje, nosso poder aumentou, a Morte foi definida como a inimiga a ser derrotada fomos possuídos pela fantasia onipotente de nos livrarmos de sou toque. Com isso, nós nos tornamos surdos às lições que ela pode nos ensinar. E nos encontramos diante do perigo de que, quanto mais poderosos formos perante ela (inutilmente, porque só podemos adiar...), mais tolos nos tornamos na arte de vier. É, quando isso acontece, a Morte que poderia ser conselheira sábia transforma-se em inimiga que nos devora por detrás. Acho que, para recuperar um pouco da sabedoria de vier, seria preciso que s tornássemos discípulos e não inimigos da Morte. Mas, para isso, seria preciso abrir espaço em nossas idas para ouvir a sua voz. Seria preciso que voltássemos a ter os poetas...

“Extraído de: ALVES, Rubem A. – A Morte como conselheira. IN: CASSORLA, Roosevelt M. S. (Coord.). Da Morte: Estudos Brasileiros. Campinas: Papirus, 1991. Pg 11 – 15.”

quarta-feira, 5 de agosto de 2015

Filosofia

"O seu modo de vida pode ser universalizável? A forma como você vive poderia ser boa para todas as pessoas? Todas as pessoas agem desse jeito? A sociedade se manteria? Esse tipo de jogo que o Kant pedia era um jogo de imaginação de imaginar que o absurdo de todo mundo seguia sua própria máxima, se aquilo poderia valer pra todo mundo. 

Eu acho que esse tipo de jogo já está pressuposto, por exemplo, lá no Aristóteles quando ele fala no desenvolvimento das virtudes. Ele pensa cada ser humano como uma planta que ela tem que desenvolver todas as suas potencialidades. Só que existem plantas com algumas diferenças, mas as condições para o desenvolvimento devem ser as mesmas. 

Uma filósafa Martha Nusshaum faz a parte da ideia de índice do desenvolvimento humano do Amartya Sen da economia algo bem interessante. Não basta distribuição de renda, você tem que dá condição pra que toda pessoa desenvolva suas potencialidades. Não só condições de saúde, de educação, mas também de participar do debate social, participar do jogo da razão de forma pública. Numa ditadura você não conseguiria fazer isso. Mesmo numa democracia você não consegue participar do jogo porque depende de qual empreiteira você é dono [risos] de quantas vagas no Congresso você consegue comprar pra sua casa... mas isso é outro detalhe. [...] 

Todas as sociedades-nações foram fundadas na leitura de certos livros: literatura... O fato de você compartilhar uma língua geralmente era o que unia uma nação. Agora a gente chegou num ponto que as pessoas não estão mais lendo nada. [...]

Talvez a vantagem da filosofia seja essa vantagem de tentar... essa ilusão do universal faz com que muitas vezes essa filosofia julgue o certo e o errado. Nossa tendência é sempre fazer esse tipo de julgamento e a filosofia serve de justificativa pra esse tipo julgamento. E esse julgamento já permite a ação. Por exemplo, um antropólogo vai trabalhar muito descrevendo as coisas como são, um antropólogo vai sempre descrever as coisas e não vai julgá-las. Por exemplo, um antropólogo pode ir no morro carioca e descrever tudo o que tá acontecendo lá no funk e ver todos os aspectos... a função social daquilo. Um filósofo vai sempre querer julgar se isso é bom, se isso é ruim. Qual é a conseqüência daquele tipo de valor e vai ter juízos parciais, mas ele vai querer fazer o julgamento."
 (sic)


Marcos Carvalho Lopes 
no 1º podcast do Filosofia Pop

quinta-feira, 18 de junho de 2015

Mickey, meu gato

Esse é Mickey em seu castigo por ter roubado meu absorvente.
Sim, ele pega e sai correndo. Ele sabe que é errado!

- Paty, abre ali pra Mickey! -  grita minha mãe da cozinha.
É assim quase todos os dias. Chega a noite e meu gato fica pirado pra sair. Ele fica na porta esperando alguém chegar da rua. Ou alguém jogar o lixo. E é assim que ele sai correndo pra fora.

Já acompanhei ele nessas saídas várias vezes. A vizinha interfonava reclamando dizendo que ele mijava nas plantas dela. Era tudo mentira. Teve dia que ela reclamou e Mickey nem tinha saído de casa! Mickey aprendeu a não fazer isso. Depois que virou adulto é que não faz mesmo. Aqui em casa também tem planta. Enfim.

Depois disso fui atrás dele e descobri o segredo do meu gato. Segredo não, todo gato tem esse comportamento. Ele descia do quarto andar para o primeiro, pulava o muro do corredor e ficava no teto do estacionamento. O que fazia lá? Tentava caçar alguma coisa. Até morcegos. Ficava observando as pessoas embaixo, ou simplesmente ficava sentado olhando pro nada. Se esfregava no chão. Mas a maior parte do tempo, ele não fazia nada.

Antigamente ele ia mais longe. Saía do prédio e ficava caçando na rua. Não ia mais longe que isso (ainda bem). Ainda hoje ele volta com alguma lagartixa pra dividir com a mãe e a irmã. Mas não é tão frequente.

Antigamente essas saídas demoravam mais. Hoje em dia ele sai e num instante volta. E como ele entra em casa? Bom, ele fica na porta miando, chamando a gente pra abrir, porque afinal, ele ainda não aprendeu a abrir a porta, rs. E é assim. Eu vou lá abrir a porta pro cara.

Ele tem hábitos que eu nunca vi em nenhum gato. Ele é muito carinhoso. Eu chamo ele, e ele atende. Ele olha. Ele fica de barriga pra cima pra pedir carinho. Ele me chama pra colocar comida ou água. Fica agachado de frente pro pote miando e olhando pra mim. Ele só falta falar: - Olha aqui, tá faltando água pra beber!

Mickey tem todo um charme. Tem sentimentos. Fica triste, feliz, decepcionado, irritado. Mas ele meio que sabe o que a gente quer e o que a gente quer dele. O olhar dele diz que ele sabe. Uma vez eu fiquei triste, e eu tenho certeza que ele sabia.

Mickey sabe quando faz alguma coisa errada. Ele faz escondido ou ele sai correndo pra se esconder. Mas ele sabe que eu amo ele.

Ter adotado Pandora, foi uma das coisas mais felizes que eu fiz na vida. Ela teve dois filhos lindos. Um casal que dá banho um no outro. Um não vive sem o outro. Se tá faltando alguma coisa na tua vida. Alguém. Quem sabe pegar um gato na rua e dar carinho a ele. Com certeza ele vai retribuir.

terça-feira, 16 de junho de 2015

O Valor do Tempo

Eu comecei a refletir mais sobre isso quando li um texto de Sêneca no blog de Patrícia Pirota. Fiquei refletindo sobre como administro meu tempo e o que faço com ele. Adicionei às minhas metas valorizar mais o meu tempo.

Zeca Camargo passou seis meses viajando pelo mundo. Muita gente viajaria sem aprender nada, sem ter aproveitado o tempo em cada lugar. Mas ele soube alimentar sua alma de experiências:

"[...] Eu tentei colocar tudo aqui, nas a tarefa é inglória. Eu mesmo não me lembro de tudo que vivi e experimentei nesses últimos seis meses. Mas sei bem como tudo isso mexeu comigo. Sobretudo como isso me fortaleceu. Lá em cima brinquei que as pessoas que não têm a sensibilidade para entender coisas assim jamais chegariam a essa altura deste longo texto de hoje. Espero realmente que elas tenham me abandonado parágrafos atrás. E celebro quem veio comigo. Porque se você chegou até aqui é porque tem o potencial de entender o poder dessas coisas que a gente experimenta pelo mundo. E sabe como isso transforma.
Voltar para a rotina, para a minha realidade aqui é um processo cruel, mas que encaro agora sem medo. Voltei com uma coragem e, sobretudo, com uma certeza do que eu quero da vida, como nunca havia conquistado nesses 52 anos. E tudo isso me deixa, repito, mais forte. E, consequentemente, mais feliz. E se escrevi tudo isso até aqui foi para poder dividir isso tudo com você. 
[...] 
Se essa última viagem de seis meses (quase ininterruptos) me ensinou alguma coisa, foi a de que eu ganhei essa experiência sim. Cresci ainda mais com ela. E seria injusto guardá-la só para mim".
[Uma História do Tempo - Zeca Camargo] 

Eu li um livro que tinha um trecho que falava sobre o tempo e não me recordo qual é. Vou deixar registrado aqui pra poder procurar mais tarde.

terça-feira, 17 de março de 2015

Stoner, obra redescoberta de John Williams


Peguei esse livro na livraria. Me sentei e comecei a ler.

na minha terceira visita à William Stoner
Foi uma indicação da Juliana Gervason que me deixou curiosa. Ela falou um pouco do livro e pensei "vou colocar na minha wishlist". Mas na verdade em uma ida à Livraria Cultura do Paço Alfândega o vi bem de frente pra mim na prateleira dos lançamentos. E lá mesmo sentei e li.

Não li em uma sentada só. Fui à livraria quatro vezes em dias diferentes para terminar o livro. Duas das quatro vezes estava à espera de alguém. E decidi: "Já que eu não tenho dinheiro pra comprar livros, vou ler aqui mesmo". E se Stoner não fosse tão interessante não me daria ao trabalho de visitar a livraria tantas vezes por semana.

É muito simples. O autor conta a vida inteira de um personagem.

Stoner é um personagem comum, mas ao mesmo incrível. É uma pessoa cativante. Mas será que foi a narrativa do Williams que me cativou? Ou o ser humano é um animal realmente interessante?

Stoner sai de casa de repente pra estudar, de repente de torna professor, se casa de repente e de repente tem uma filha e se apaixona assim.... também de repente.
Assim é a vida do ser humano. E que de repente envelhece e padece.

Stoner me cativou tanto que me segurei para não chorar na livraria no último capítulo do livro. Quase senti piedade. Uma vontade enorme de abraçá-lo. E de repente vi que quase senti vontade de dizer "Não se case com Edith" ou "Tome cuidado com sua filha, não deixe Edith transformá-la".

Saí da livraria assim, como se tivesse perdido alguém. Já eram 18h e a água do Rio Capibaribe refletindo o céu ainda azul e me senti órfã da vida. Sem perguntas e sem respostas. E também sem o livro nas minhas mãos para acariciar.

17/03/15 (terça-feira), me sentindo órfã
Ainda não sei o que dizer de Stoner e o que se passou entre mim e o personagem. Só sei dizer que John Williams, autor do livro, foi um filho da mãe que escreveu um livro maravilhoso sobre alguém. Uma pessoa, um indivíduo que pode estar do teu lado lendo um livro também.

Se ele não é clássico, pra mim é.

Vou deixar aqui o comentário de Julyana Brandão do Skoob:

Conheço umas tantas pessoas que leram esse livro e adoraram e quando perguntadas do motivo se acham sem palavras para explicar. Afinal de contas, é uma história simples. Um moço que vai para uma Universidade meio por acaso e cuja ida muda o destino que lhe era reservado. Lá ele estuda, se torna professor, casa, tem uma filha, escreve um livro, tem um caso... Nada muito diferente do que acontece com a grande maioria de nós. Daí hoje, numa das muitas resenhas que li sobre, penso que encontrei a minha justificativa:
"O pêndulo de sua vida se movimenta entre o trágico e o cômico, mas nunca se fixa nesses extremos, pois William Stoner se recusa a enxergar a si mesmo pelas lentes da arte. Talvez por essa razão sua vida funcione como um espelho para os leitores: o que ela faz ver não é mais, nem menos, que o desamparo da existência."  ¹ 

"Você precisa lembrar o que você é, o que escolheu ser, e o significado do que você está fazendo."(pag.46)

¹  Trecho de Felipe Charbel (Professor de Teoria da História na UFRJ) na matéria publicada no site ZH Caderno PrOA sob o título "Stoner, romance de John Williams redescoberto depois de 50 anos, ganha edição brasileira"

domingo, 22 de fevereiro de 2015

Penny Dreadfuls...


...são publicações de ficção (de terror) que ream vendidas na Inglaterra do século XIX. Por serem histórias que custavam um centavo, tinham como apelido "centavos do terror".

segunda-feira, 16 de fevereiro de 2015

O Galo da Madrugada

Este texto foi originalmente escrito para ser publicado no blog do Aguinaldo Silva Digital (o que infelizmente, não aconteceu).
O texto foi escrito na madrugada do dia 14/02/2015.

Galo da Madrugada de 2015 na Ponte Duarte Coelho (14/02/15) - Acervo Pessoal

Um galo normal faz cocoricó acordando os que ainda não despertaram. Mas o exibido Galo de 27 metros de altura canta um hino pra chamar bem cedo os foliões e começar o maior bloco de carnaval do mundo. E sabemos em que voz e ritmo esse galo costuma cantar aos nossos ouvidos:
“Ei pessoal, vem moçada.
O carnaval começa no Galo da Madrugada...”

Já dá pra sentir a grandiosidade do Galo da Madrugada desde a sua montagem: centenas de pessoas (foliões, turistas e trabalhadores) passam pela Ponte Duarte Coelho tirando fotos e selfies com o grande protagonista (de 33 toneladas) do carnaval. Uma agitação que dura o carnaval inteiro.

Não esquecendo também de todo tipo de comerciante vendendo água, cerveja, óculos de sol, “lambe-lambe” e artigos de fantasias; uma oportunidade de lucro que ninguém sabe quanto tempo vai durar.

Visto da Ponte de Ferro, o galo pareceu alheio a todas as fotos que estava sendo alvo - exibido e ansioso para hoje, seu grande dia. Esse ano ele está mais elegante do que nunca, vestindo fraque em amarelo e preto, tocando saxofone e com sombrinhas de frevo em sua crista. Sombrinhas essas que rodam com a brisa do Rio Capibaribe.

Mas no Galo da Madrugada não só tem o galo gigante. Tem também os gigantes bonecos de Olinda. E muito mais do que as atrações musicais dos trios elétricos, temos fantasias caprichadas e figuras pitorescas que nunca perdeu uma edição do bloco e cumpre bem o papel voluntário de divertir a multidão.

E se “...o carnaval começa no Galo da Madrugada”, os últimos versos da poesia de José Honório terminam assim:
“(...) Se para uns basta o Galo
Pra muita gente é o começo”.

quarta-feira, 4 de fevereiro de 2015

Hashtag Sal



Hashtag Sal é a primeira webserie brasileira filmada em 4K no youtube. De produção independente realizada por Adriano Plotzki (diretor de filmes publicitários em São Paulo) e Ernani Oliveira, a série conta histórias de vida de gente que mora no mar. Plotzki transformou o Brutus, seu barco de 25 pés, em uma produtora flutuante, navegando até os entrevistados. Ele grava, edita, escreve os roteiros, precisa içar velas, traçar rotas, cozinhar, limpar e lidar com imprevistos. 
A câmera usada é a Black Magic 4K, objetivas Canon série L (24-70mm, 17-35mm e 70-200mm). Quatro programas são 2TB de arquivos e a edição é feita no Final Cut Pro X.

Fonte: Revista Filmmaker nº20




Entre todos os episódios, o que eu mais gostei foi "O que sobrou de uma viagem?", entrevista com Elio Somaschini no barco Crapun.



Trechos dos entrevistados

"Uma coisa que a vida no barco dá é uma coisa de força. Adoro tecnologia, mas com limite. Senão você acaba se perdendo nesse mundo e não vive o essencial. E muitas vezes esse conforto da tecnologia pode deixar a gente mais fraco".
Cecília Quaresma
Como disse Cecília, entrevistada do dia 4, na vida simples sobra tempo para o essencial. No barco não tem tanto espaço, então não tem como ter compulsão de compras.

"Você pode fazer as coisas acontecer se você realmente quer. Somos capazes de fazer muitas coisas. Só levante e faça. Faça acontecer".
John Lee Diamond

"O horizonte de quem está na vela é o mar. Não é uma barreira ali na frente".
Gibrail Rameck Junior

"O contentamento de ficar simplesmente contemplando as coisas, sem precisar estar usando essas coisas da natureza pra alguma coisa. Só contemplar, você aprende a ser feliz com qualquer coisa. A coisa mais importante na vida é amar".
Rubia Maria Albino

"Eu creio que velejar é transformar a física em poesia. Você usa o vento pra poder se mover pro lado que você quiser".
"Quando você chega em qualquer lugar, você tem que saber dizer, por favor, obrigado, eu vim pra aprender. Com um sorriso você abre os braços, você é bem recebido em qualquer lugar do mundo".
Elio Somaschini

Frases do Adriano Plotzki:

  • Pintar a vida um pouco mais colorida do que ela realmente é, às vezes nos ajuda a sermos mais felizes.
  • Não acho que viver é o suficiente. A minha vida precisa de sentido.
  • A solidão é um lugar para visitar, mas não para morar.
  • Na hora que todas as outras vozes param, você consegue se escutar um pouco melhor.