quarta-feira, 18 de dezembro de 2019

Apenas o essencial





"I went to the woods because I wished to live deliberately, to front ONLY THE ESSENTIAL facts of life, and see if I could not learn what it had to teach, and not, when I came to die, discover that I had not lived". 
Henry David Thoreau


O que for a profundeza do teu ser,
assim será teu desejo.
O que for o teu desejo,
assim será tua vontade.
O que for a tua vontade,
assim serão teus atos.
O que forem teus atos,
assim será teu destino.

Brihadaranyaka Upanishad
IV, 4.5.

O Grande Gatsby - F. Scott Fitzgerald [trechos]


"Aprendemos a demonstrar nossa amizade a um homem quando ele está vivo, e não depois de morto. Quando isso ocorre, tenho por norma não me meter mais no assunto".

"Eles eram gente descuidada, Tom e Daisy: destruíam coisas e pessoas e, depois, se refugiavam em seu dinheiro ou em sua indiferença, ou no que quer que fosse que os mantinha unidos, e deixavam que os outros resolvessem as trapalhadas que haviam feito..."

[perdi os outros trechos]


Bonsai - Alejandro Zambra (trechos)


Julio sabia que estava condenado à seriedade, e tentava, obstinadamente, torcer seu destino sério, passar o tempo na estoica espera daquele espantoso e inevitável dia em que a seriedade chegaria para se instalar para sempre na sua vida.


Ambos tinham quinze anos quando começaram a sair, mas quando Emilia completou dezesseis, e dezessete, o lerdo continuou tendo quinze. E assim por diante: Emilia completou dezoito, e dezenove, e vinte e quatro, e ele quinze; vinte e sete, vinte e oito, e ele quinze, ainda, até os trinta anos dela, pois Emilia não continuou fazendo anos depois dos trinta, e não porque a partir de então tivesse decidido ir diminuindoa idade, mas porque poucos dias depois de completar trinta anos Emilia morreu, e então não fez mais aniversário porque começou a estar morta.


Naquela mesma noite, Emilia mentiu pela primeira vez para Julio, e a mentira foi a mesma, que tinha lido Marcel Proust. No começo, ela se limitou a concordar: Eu também li Proust. Mas logo houve um grande silêncio, que não era um silêncio incômodo, mas expectante, de maneira que Emilia precisou completar a história: Foi no ano passado, não faz muito tempo, levei uns cinco meses, andava atarefada, você sabe, com os trabalhos da faculdade. Mas me propus a ler os sete tomos e a verdade é que esses foram os meses mais importantes da minha vida de leitora.
Usou esta expressão: minha vida de leitora, disse que aqueles haviam sido, sem dúvida, os meses mais importantes da sia vida de leitora.

Em todo caso, na história de Emilia e Julio há mais omissões que mentiras, e menos omissões que verdades, dessas verdades que são chamadas de absolutas e que costumam ser incômodas. COm o tempo, que não foi muito mas o bastante,trocaram confidências sobre seus desejos e aspirações mais íntimos, seus sentimentos desmedidos, suas breves e exageradas vidas. Julio confiou a Emilia assuntos que só o psicólogo de Julio deveria saber, e Emilia, por sua vez, converteu Julio numa espécie de cúmplice retroativo de cada uma das decisões que ela havia tomado ao longo da vida. Daquela vez, por exemplo, quando decidiu que odiava sua mãe, aos quatorze anos: Julio a escutou atentamente e opinou que sim, que Emilia, aos quatorze anos, estava certa, que não havia outra decisão possível, que ele teria feito o mesmo e, claro, se na época, aos quatorze, eles já estivessem juntos, ele com certeza a teria apoiado.


"Tantalia" é a história de um casal que decide comprar uma plantinha para conservá-la como símbolo do amor que os une. Percebem, tardiamente, que se a plantinha morrer, morrerá com ela o amor que os une. E como o amor que os une é imenso e por nenhum motivo estão dispostos a sacrificá-lo, decidem fazer a plantinha se perder entre uma multidão de plantas idênticas. Depois ficam inconsoláveis, infelizes por saber que nunca mais poderão encontrá-la.


Você escreve à mão? Ninguém escreve à mão hoje em dia, observa Gazmuri, que não espera Julio responder. Mas Julio responde, responde que não, que quase sempre usa o computador.
Gazmuri: Então você não sabe do que estou falando, não conhece a pulsão. Há uma pulsão quando você escreve no papel, um ruído do lápis. Um curioso equilíbrio entre o cotovelo, a mão e o lápis.

segunda-feira, 18 de novembro de 2019

versos Blind Melon - album de mesmo nome (1992)

As I stood on the edge and looked down to see
The light of a new life shining up on me
...
This desert heat has crowded me strong
With a wish that I had for winter

Deserted - Blind Melon


Keep on dreaming boy, cause when you stop dreaming it's time to die

when life is hard, you have to change...

Change - Blind Melon


You've planted rotten seeds
And in a land of happiness

Holyman - Blind Melon


Dance with the shadows on my wall
What were you thoughts, as they
Were flying through your mind

Seed to a Tree - Blind Melon

Grandes Nomes da Comunicação - José Marques de Melo



"Como os jornais diários e as revistas semanais continuam a pautar o jornalismo disseminado pelo rádio e televisão, constata-se um predomínio da ótica peculiar aos que detêm o poder em nossa sociedade, minimizando as demandas populares."

"Apesar do crescimento e da melhoria qualitativa da nossa pesquisa, tenhos ainda a sensação de que persistem bolsões provincianos. Talvez melhor explicando: que sofrem um certo complexo do colonizado. Que significa isso? Mimetizar o que se faz em certos países hegemônicos sem os ajustes críticos à nossa realidade. Também implica em desconhecer ou desqualificar o que se faz no país ou na região (América Latina), priorizando óticas alheias."

Magic The Gathering - A Floresta Murmurante - Clayton Emery [trechos]




"A magia não trabalha para ninguém, mas nós trabalhamos para ela..."

"Para ser feliz, você tem de estar ocupado."

"O céu nunca é tão claro como fica depois de uma tempestade."

O que é ciência? - Carlos Lungarzo [trechos]

Em 1986, um oncologista argentino observou (de maneira espontânea), que uma substância extraída da cobra, a crotoxina, destruía células cancerígenas. Acontecer por acaso, quando o veneno da cobra entrou num tubo de ensaio contendo essas células. Então, ele pensou que isso poderia ajudar a aliviar os efeitos do câncer em doentes, e começou a experimentar com ratos. Ele e sua equipe administravam crotoxina em rato com câncer. Essa observação era experimental, já que foi feita propositadamente e foi planejada. Puderam observar, então (observar experimentalmente!), que numa quantidade grande de casos a crotoxina retardava significativamente os efeitos do câncer, ou pelo menos produzia certo alívio.*

* O exemplo é real. Essa equipe de cientistas, vinculada à Universidade de Buenos Aires, foi demitida, e seus membros abandonaram o país, devido à pressão de grupos políticos vinculados à fabriação de analgésicos e remédios específicos para o câncer, e dos lobbies de oncologistas.
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O cientista visa formular leis e organizar leis em teorias. Ele sabe que um copo de vidro quebra, mas quer saber qual é a lei que explica o fato - uma teoria que permita a formulação da lei.
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quarta-feira, 16 de outubro de 2019

Perdido de Volta - Miguel Gullander [trechos]



Eu não estou louco, apenas sou um viajante - e os aventureiros são imprevisíveis: num momento estão aqui, logo agora, estão ali.
O meu lugar preferido para viajar é até o outro lado do universo.
15

Queria estar em todo lado e com toda a gente ao mesmo tempo, - partilhando e bebendo do eterno momento que agora se desenrola, - podendo ter certeza, garantir a possibilidade de me cruzar com aquela única pessoa que me soubesse falar àquela alma que os meus amigos não acreditam existir - neste mar de gente, tempo, espaço, anonimato, esquinas -, queria encontrar, viver, aquele instante
19

Esta é uma das coisas boas da Escandinávia: o não-existente ouro nazi permite-nos ser tolerantes, multiculturais, e trazer uma quantidade de coisas étnicas e interessantes, de outros lugares, para bêbados desempregados e solitários, como eu, entreterem as eternas noites do omnipresente inverno.
O inverno, compreenda-se, não é uma estação, é uma condição. Mental, mesmo.
20-21

Parecendo um pequeno paraíso encenado, um palco, esta praça onde nos encontramos está pronta para ser filmada e contar uma trágica história de amor e pirataria, despedidas e reencontros, - noutros tempos, em que as mulheres ainda achavam que, por alguns homens, valia a pena esperar uma vida inteira.
25

“Eh, moço, cuidado!”
“Parece besunto” explica entusiasmado o albino.
“Porquê este nome para a Hiace” pergunto eu, já a tirar o meu caderno do bolso de trás da Levi’s.
Ele olha desconfiado, mas interessado, o caderno.
“Gosto de me lembrar das histórias que aprendo com as pessoas” esclareço.
30

“Por mais falta de cumprimento de horário, de rota, - por mais desconhecido que seja o caminho - por mais desnorteado que pareça ser o destino, por mais perdido que se esteja, esta carrinha acaba sempre por ir aonde a necessidade exige - acaba sempre por passar por ir aonde a necessidade exige - acaba sempre por passar onde é preciso. Recolhe quem deve recolher e até dá, por vezes, uma boleia - e, mesmo que ande perdida na noite, na chuva nos caminhos sem vivalma, - perdida, ela acaba sempre por regressar de volta onde pertence, a casa.”
32-33

Cada um de nós está no caminho de retorno, mesmo que disso não se dê conta. Pode andar perdido… mas é sempre -
Perdido de volta.
33

Para quem gosta de telenovelas, esto que vou contar não interessa para nada, pois, para começar, é uma história verdadeira, cujo enredo é simples e bruto demais para caber em 120 episódios bem esticados, bem narrados, falsificados - e nestas curtas páginas não vai haver nem final, nem solução, nem clímax. Consolem-se os que sabem de estruturas narrativas, porque não haverá artifícios trágicos, fáceis, estilo deus ex-machina a entrar cena adentro, palco abaixo, para resolver a confusão toda - o enredo da nossa vida - a para o qual eu não consigo descobrir desenlace. Isso virá depois, para quem souber esperar, tal como eu próprio estou à espera. Vai ser como a própria vida, e esse é o seu único truque dramático: ter acontecido mesmo.
35

Nas agências (sejam elas governamentais ou não, vai dar ao mesmo), para que elas funcionem, e prevejam ao máximo o imprevisível, é necessário ter todo tipo de amostras humanas, todo tipo de pessoas pertencentes a todos os tipos de versões da realidade - por isso, por cada fez profetas do tsunami e do efeito de estufa, daqueles que dizem que os níveis de CO2 vão elevar os mares 28 metros, eu conseguia encontrar vinte gajos que demonstravam o oposto. Portanto, enquanto os ambientalistas, comedores-de-saladas, se arrastam nos seus carrinhos-de-choque, com um motor eléctrico e um motor a gasolina (tendo, faça-se a aritmética, gasto o dobro dos recursos industriais para produzir tamagoshis-a-rodas, estilo Toyota Prius) - enquanto eles poluem com a sua gasolina verde, eu rasgo os semáforos, turbo a esguichar napalm pelo cu-de-escape, até que a catástrofe chegue. E nada farei para a impedir. Pelo contrário.
Numa parede junto à biblioteca de Oeiras está escrito: “Queremos um tsunami!” Eu também queria um. Eu queria que uma baleia gigante entrasse por este mundo adentro, este meu mundo - e me comesse vivo.
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“Existe uma queda, em círculo, para dentro dum espaço fechado, quando a planta te entra no corpo. O ponto de fuga, aquele sítio inexistente, para onde és atirado, é uma cela cujas paredes estão entorpecidas, anestesiadas - e como não as sentes, não as vendo, iludido pensas não existirem.”
45

Connosco sentados à sua volta, tirava notas no seu computador portátil. Odiava tocar em canetas ou papel. Tudo digital, abstracto, frio, como ele próprio.
“Então aí nessa terra…” e dirigia-se a um dos agentes de um dos países onde, em breve, o banco iria fazer propostas para a Educação. “Eles são religiosos?... Ah, não? Então vou dizer-lhes que a Educação contribui para um espírito laico da sociedade…” escrevia no computador.
“E no seu país? O que viu?” apontava para mim. “...Ah, ok, são religiosos, então vou dizer que a Educação contribui para um aprofundamento dos valores universais e tradicionais. Vou dizer que qualquer cultura, tendo como pano de fundo uma estrutura ética, deve dar atenção à sua organização educativa e… E as gajas de lá? É minimamente liberal?... Está bem” e escrevia mais. “Vou acrescentar assim ao de leve que, sim, a Educação contribui para uma maior consciência social, sexual. Contribui para a emancipação profissional, sexual, blá blá, o que nós bem queremos é que façam menos bebés e passem menos sida.
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Porque para se falar de ser mulher tem de ser uma. Enquanto que para se falar de homens é simples: basta simplificar.
57

piropo - 58

Mais duro do que o dos homens, o nosso caminho, como mulheres, exige mais realização - um homem pode ser considerado homem apesar de nada ter feito além disso mesmo, de ser homem. O que não quer dizer muito. Mas uma mulher, para se sentir mulher, precisa de muito, precisa se mover em muitas coordenadas e dimensões diferentes - da orgânica à social. E a sua guerra, a sua luta, como todo o reino do mundo natural o demonstra, é implacável. Tudo passa por nós, mulheres: não há ser humano que não tenha, literalmente, passado pelo útero e alma duma mulher. Somos leoas quando mães, somos louva-deus quando amantes, somos viúvas-negras quando despeitadas.
59

“Inteligência!” gritam prontamente os alunos.
“Exactamente!” exulta ele. “Inteligência, etimologicamente provém de suas palavras latinas combinadas: ‘inter’ mais ‘legere’. Entre mais ‘ler’. Ler-entre. Ler entre o quê?!”
“Ler entre as linhas!” rejubila perante a congregação o professor. “Para se descobrir a verdade é preciso ler nas entrelinhas, para lá do visível, do explícito. Porque a verdade nunca pode ser dita, nem a beleza mostrada: ela é eminentemente subjectiva - não está no objecto, mas sim no próprio sujeito. É, portanto, preciso captar o invisível, o que não está escrito - o implícito. A inteligência é ler, apreender intuitivamente, isso que está nas entrelinhas, entre as letrinhas pretas. É essa a grandeza da poesia: o que de vosso descobrem, para lá do dado pelo escritor. A beleza encontrada é vossa - o invisível para lá das palavras. O texto, a palavra, é apenas como um dedo que aponta a lua. Esse dedo nunca é a própria lua. E se vocês forem para lá, olhando para além, descobrem nas entrelinhas o que não pode ser dito por palavras. E esse milagre, essa beleza é só vossa, são vocês mesmos - esse milagre, essa beleza…”
66-67

“Toda a gente fecha os olhos e ao som das diferentes músicas que vou tocar, dançam com a caneta pelo papel. Não se inibam, sintam-se livres, pois vocês são livres!” e falando de liberdade o professor já estava a predeterminar o curso dos eventos.
67

E depois ele fá-los misturarem as frases, combiná-las do modo mais improvável e usá-las como a primeira linha dum novo poema: “Um cálice de Deus que me permite sonhar com os teus passos”; “A máscara negra da Deusa Raiva”; “O espelho, sempre a dúvida: eu ou ele?”; “Depois do sabor, a morte não é nada”; “E ainda há um cheiro a folhas molhadas no ar”....
E estranheza de algumas frases imediatamente serve de gatilho, faz disparar poemas inteiros vindos do inconsciente.
68

Os elementos da fila de trás olham-se entre si. Seria esta fonte da famosa rebelião dos alunos? Seria esta a causa da agressividade destes adolescentes, mal habituados, que agora exigiam aos outros professores que lhes dessem aulas onde pudessem “mostrar o que sentiam” e “criar”, utilizando ferramentas passadas, para as suas próprias mãos, pelos professores? Pelo visto este professor dava-lhes liberdade para se exprimirem, mostrarem o que sentiam por de dentro - mesmo o horrível - desde que obedecendo a sistemas de regras. Liberdade total, mas dentro de sistemas de regras, neste caso as da literatura e poesia. Metiam os ossos, o tutano e a alma ao papel- e descobriam a sua própria voz interior. Como quantificar, avaliar, dar nora a revelações destas?
69

...mais vale morrer de pé, do que morrer de joelhos.
70

O hexagrama foi construído. I Ching, o livro das mutações: seis moedas atiradas, jogadas, e um destino, um trilho, um naco de estrada é revelado
[...]
O Abismal Duplo, hexagrama número 29 do I Ching. Ele lê rapidamente, apressado, e capta, soltas, as seguintes frases:
“Este hexagrama significa o mergulhar (...) como água numa ravina. No mundo dos homens, representa o coração, a alma aprisionada dentro dum corpo o princípio da luz encerrada dentro da treva. O nome do hexagrama tem um sentido adicional, repetição do perigo”.
81

“Duplamente perdido - estou perdido em mim e de mim, de mim e do outro, de ambos, as minhas duas metades, cindidas, estamos perdidos um do outro. Ambos estamos perdidos” murmura ele do escuro.
[...]
“Por um deles segue o coração - pelo outro a mente” diz a outra voz do outro lado do cubículo. “No segundo caminho as dúvidas nunca cessarão, pois a mente, essa metralhadora, nunca se cala, e a sua pergunta principal é sempre o que teria sido se tivesse seguido a outra direcção? Por isso, tu segues por esse caminho”.
[...]
“O hexagrama transforma-se num outro: o do Viajante. Eu seguirei por esse lado da bifurcação” diz ele, quase em surdina. “O oráculo não se ficou por um só julgamento Temos de cumprir o segundo também.”
82

O Viajante, hexagrama número 56 do I Ching. Ele cita-o para o outro homem:
“Terras estranhas e separação são o destino do viajante. A estrada é a sua casa.”
83

Noites intermináveis, a noite dos subúrbios de Lisboa, do tamanho da solidão que sentem dela, o inominável espírito montador, grande amazona, que levas os putos à tua procura por todas as garagens, becos e subterrâneos onde os rituais de música, de metal cromado e negro, pesado-pesado, violam virgens como nós.
86

Duro, cheio de sede - vagabundo, passou a não ter outra cama além do solo, nem outro telhado além das estrelas.

O acto físico, visível para o olho, é apenas e sempre uma confirmação no plano material, de algo que já aconteceu no plano da Alma. Não é preciso chegar a dormir com uma mulher para já ter cometido adultério no coração, basta fantasia.
108

“A estrada, doce donzela negra, a minha preferida, faz-me deixar todas as outras para trás. E a estrada, esta sede de liberdade, é de todas as escravas a única que me tem cativo - sou escravo desta vontade de liberdade, da tua pele negra, asfaltada entre cada implacável relâmpago ritmado do tracejado da auto-estrada.”
109

“Como vieste aqui parar?” pergunto à imagem pairando no espelho. Onde está a Cidade do Fogo Pálido, a Praia das Mil Ondas? Onde está esse lugar que procuro como maná? O rosto não demonstra qualquer emoção, pois sabe que não vale a pena antecipar qualquer resposta. Ela não existe, o que iguala a dizer que a resposta é: destino.
125

Depois contou alguém (já sempre alguém que conta qualquer coisa) que uma das miúdas entrou em pânico - desmaiou, disse que viu uma cara a espreitar da água, mas afinal era apenas uma máscara que viera a boiar, de muito longe, e que nunca afundara. Nada de especial.
131

“O que sobra da pessoa é uma casca, da espessura da madeira que se lhe colou à cara, donde ecoa o grito de todo o sofrimento universal. O testemunhar desse horror, reflectido no rosto da vítima sacrifical, enche todos de enorme piedade, compaixão. A visão do horror puro desperta o desejo de, finalmente, transcrever o mal e o sofrimento. Ver o poço de todo o horror faz aspirar pelos céus.”

De novo me lembro que, para os nossos sábios gregos, a iluminação, a descoberta da vida eterna, era o resultado do reconhecimento, da anamnese - o contrário da amnésia.
134

“Muito disto foi também trazido nos barcos dos portugueses” diz o irmão do dono. O outro irmão do dono ri, e o outro irmão do dono dá-me mais um chá.
Assim compreendo essas anacrónicas figuras que chegaram em caravelas de violência, aventura e ousadia - compreendo a figura branca de uma virgem cheia de graça -,mas não ouso compreender a outra que me fita com tanta raiva - a máscara negra duma deusa cheia de raiva.
“Uma pessoa não deve ser dono de uma máscara de quem não conhece. O teu amigo não sabe quem é o espírito, a quem essa máscara pertence” e agora falavam para o tribal.
Claro que não, claro que não.
135-136

...isso é ser velho: é ter-se um futuro muito mais curto que a memória do passado - e essa memória, em comparação à doce expectativa que a vida promete quando se é novo, essa memória não vale nada, não sabe a nada, é um deferido, sem a intensidade da actualidade, do Presente activo - sem a expectativa, a surpresa da vida. Para mim já não há surpresas. Entre todas as que já esgotei, a única que me resta é a morte.
148

A eterna e universal Fome - a carência de comida, de Justiça, de Amor, e muito especialmente, de Tempo. Pode-se redimir quase tudo com o dinheiro, que finge comprar quase tudo, comida, justiça e - ah! o amor - o dinheiro que compra tudo, menos o Tempo.
189

O teu tempo está a terminar, e ainda não a encontraste, pois não? Não encontraste aquilo que procuras, e perguntas-me o como? Como? Mas não há como!
190

Existe algum desacordo acerca do que acontece após a morte, excepto que, para todos os outros, a vida continua - até que eles próprios morram. Concordas?”
194-195

“...Tal como um sonho começa em certo ponto durante o sono, também ‘em certo momento’, aquilo que Eu Sou surge como consciência, aqui, e este mundo começa a existir. Eu abro os meus olhos - experimento a vida neste corpo-mente aparente. Depois de um período de experiência, Eu fecho os meus olhos - o mundo cessa, e não-nascido, para sempre Eu -”
195

“De entre todas as coisas” diz ele. “Gostaria de atravessar o deserto sob estrelas.”
211

...a quem a liberdade já não interessa, pois já não se sabem prisioneiros.
212

Todas as almas perdidas, sedentas de outra oportunidade nesta vida, são atraídas pela paixão entre um homem e uma mulher, dedilha ela no ar.
217

Existe um limbo, um espaço intermédio, onde vão parar todos os espíritos perdidos, em potência, mas que foram recusados à vida - que não foram queridos pelos pais. Crianças que foram concebidas numa raiz de furor ou indiferença, e depois foram colhidas antes de saírem para a luz.
[...]
Eu vejo esse limbo, esse planeta abandonado, cheio de crianças que ninguém nunca amou, perdidas, em busca de saírem para a luz, em busca de quem as ame, as guie, as eduque, as conduza à maturidade - e agora andam perdidas, rondando os quartos arfantes deste mundo, atraídas para os prostíbulos, os vãos de escadas, as casas de banho dos centros comerciais -perdidas, testemunhando em desilusão toda a semente desperdiçada, todo o terreno desbaratado, os baldios inférteis e as colheitas ceifadas antes da hora de darem grão, de darem fruto. Um planeta onde se salgam colheitas e a fruta fica a apodrecer, ainda raquítica, pelos cestos de lixo dos hospitais.
219-220

...é um planeta abandonado, um limbo de seres que nunca conheceram o amor e que acumulam toda a ignorância, todo o desprezo, toda a futilidade dos nossos actos - este planeta é o caixote de lixo da nossa casualidade....
220

“Tu tens os olhos em mim, mas o teu coração está com outro” gracejo sem sequer perceber, sentir as verdades que me saem da boca. Como uma síndrome de Tourette.
222

Visualizo as palmeiras, a sombra sob elas e as ondas ígneas, enormes e picantes de oxigénio, com plâncton mágico e fluorescente - gente boa e doce ao meu lado.
....
Olhos que rasgam a ignorância e vêem a divindade em tudo.
226

Ezili toda toda à volta da árvore. A árvore, milenar, demora a ser contornada em todo o seu diâmetro. Ezili roda-a, com a sua mão percorrendo um anel, toda a sua casca - que já tantas eras, tantas gerações de mulheres e homens testemunhou nascerem e morrerem. As cinzas de muitos são agora parte integrante do seu próprio corpo. A mão acaricia o tronco, fazendo um anel.
229

...sente no ferro a memória daquele que numa encruzilhada separou caminhos, e espetou aqui a faca para tentar descobrir o caminho de volta.
Neste ponto, ele dividiu-se de si mesmo, percebe Ezili segurando, firme, o cabo da faca. Como gémeos siameses, cindidos à faca, agora cada um com a sua vida, e esta faca é o único elo que tem para saber como o outro está. Faz sentido, este gémeos são como a humanidade cindida - a mesma Alma, perdida num abismo duplo.
230

...é preciso ouvir o coração para saber encontrar o caminho nas encruzilhadas.
232

A árvore range, suspira, ondula, e emana perfume. As suas raízes bebem, do lugar negro, do lugar dos sonhos e votos perdidos - que se diluem na clorofila entre os verdes - e suam-se em incenso, gotículas de seiva, orvalho vivo.
A árvore toca, com um ramo, o solo. É a sua bengala, pois Atibon Legba é uma anciã - ela sopra, por entre o vermelho dos seus frutos e flores, a seguinte melodia vibrante.:
“Para alguém numa longa jornada, como a de quem aqui espetou essa faca, eu, Atibon Legba, a árvore dos caminhos, sou o espírito da justiça, que liga os loa aos humanos. Eu abro os portões por onde tudo e todos devem passar.” Inclinando um pouco o seu peso sobre a bengala, Atibon Legba gosta de falar com a menina. “Lembra-te, pequena Ezili, que qualquer encruzilhada é um local do maior, pois todas as direcções, excepto uma, estão erradas.”
233

...os pássaros nas suas rotas migratórias, as terras distantes, as sementes voadoras, os jovens poléns, e as franjas dos ventos que se abraçam por todo planeta…
234

A fada azul, o feiticeiro drogado…
...mão direita - para curar - como com a esquerda - para envenenar…
241

O que já foi escrito abre caminho com a sua sereia de fúria e um olho, que a todo instante projecta numa nova rota no mapa desconhecido do inferno. O inferno reinventa-se a cada vez que nele pousamos o pensamento. Porque é algo que inventámos. Originalmente, bem vês, não existia. Tal como inventámos as câmaras de gás e os fornos.
253

quem planta ventos, colhe tempestades - quem pelo ferro mata, pelo ferro morre. Cada um colhe aquilo que semeia.
256

São ondas perfeitamente formadas mas não te podes distrair. Se és enrolado, vais ao fundo, e ficas em bife picado.
257

“E essa tatuagem?”perguntara-lhe eu apontando o semi-círculo em torno do umbigo.
“Esta sou eu” respondera ele com a surpresa de a quem é perguntado o óbvio.

“O Diabo não existe” sussurrei para mim mesmo.
“Então é porque nunca te viste ao espelho” ribombou ele, mesmo em frente à minha cara.
259-260

Ele levanta no ar o último copo de grogue, como numa saúde.
O acto físico, visível para o olho, é, apenas e sempre, uma confirmação, no plano material, de algo que já aconteceu no plano da Alma. Não é preciso chegar a dormir com uma mulher para já ter cometido adultério no coração - basta fantasiar. E no meu coração eu estava pronto para beber do cálice do ódio até à última gota. Sentira-lhe, já em fantasia, a sedutora textura metálica, o agridoce sabor a dor.
Ele esvazia o último copo de grogue.
A traição fora cometida.
269

Olhei para os meus passos na neve, atrás de mim. Agora, irreversíveis, consumados. Tinham-se cruzado com os de outras pessoas. “Olhando para o que já aconteceu é que se vê que tudo aconteceu como tinha de acontecer” pensei, tirando uma conclusão que, no fundo, não concluía, nem acrescentou nada.

Assim é o destino, como pegadas na neve, quando olhamos para trás vemos que, só aquele, e apenas aquele, foi o nosso caminho.
273

“Todos os que por aqui passam é porque estão à procura de algo, ou fugir de algo, o que vai dar ao mesmo”
“Todos estão à procura de algo. Uns querem experimentar a queda, ou a liberdade, outros procurar um amor pelo qual, literalmente, percam a cabeça, ou uma cidade cuja lei é o próprio querer,...
“Queres descobrir algo pelo qual valha a pena viver…”
“Não. Quero descobrir algo pelo qual valha a pena morrer - porque aquilo pelo qual eu vivia já não existe”
324

“Paradise Lost”
The mind is its own place,
and in itself can make a Heav’n of Hell
or a Hell of Heav’n
325

“Que encontres um amor de perder a cabeça e isso te inspire para uma história!”
326

Hiace Perdido de volta
331

“Aprender a estar quieto, sem fazer nada, é entrar, vivo e corajoso, no túmulo. E aí mesmo descobrir a liberdade de todo o cosmos”.
334

“O louva-deus” dizia a avó, que sentada na sombra observava os miúdos e o primo, para fazer o que tem a fazer tem de perder a cabeça. Assim também nas artes de vida-e-morte, tudo deve ser feito sem cabeça, só puro instinto e espontaneidade. Quando a cabeça entra - pensa, e estraga tudo.”
“E o que é que o louva-deus tem a fazer?” perguntou o rapaz por malícia.
“Fazer amor!” ri a velha divertida. “Para o macho fazer amor, a fêmea tem de lhe arrancar a cabeça. Para fazer amor o macho tem de perder a cabeça.”
O rapaz e a menina riem da explicação que queriam ouvir.

“...O louva-deus tem como sua missão sacrificar-se num acto em que ninguém dá, nem ninguém tira - apenas a própria vida, num fluxo e refluxo, inspira morte e expira vida - num simultâneo movimento de dança. A dança do louva-deus.”
335

“Levanta-te, Ezili” dizia-lhe o tribal. “Quando quiseres acertar na cabeça do oponente, não apontes à cara, mas sim à parte de trás da cabeça, à nuca, porque tu queres atravessar e o olhar do rastafari era doce.
340

sua decapitação será uma bênção.
341

o seu rosto era extremamente jovem, enquanto que o olhar estranhamente penetrante e maduro. Olhos transparentes, abismais.
367

“Nunca queiram ver uma velha chorar… Porque debaixo da casca de rugas e dor, reconhecerão a linda rapariga que a velha já foi, e a criança que não deixou de ser. E nessa criança, verão a vossa própria foto de criança.”
371

E eu quero colocar estas questões de modo sagrado - ars poetica - para tentar contribuir para a sanidade desta sociedade que cessou de fazer perguntas, de se sentar e ouvir o silêncio, ou de tentar sentir as palavras de outro irmão seu.
383

“As nuvens, pousadas no pôr-do-sol, levam-nos a pensar do horizonte” diz-me a miúda,
396

Tudo passara, como uma experiência, marcante talvez, mas que agora não valia mais do que uma memória, uma tatuagem cicatrizada sobre a pele.
416

A promessa, por exemplo, de nunca mais nos apaixonarmos por ninguém. Fiz essa promessa, como se a pudesse cumprir. Uma promessa que acabei de quebrar, pois não consigo controlar a quem amo.
422

Porque é que queremos testemunhar esta morte? Porque, mesmo sem saber os porquês, toda a morte é o desenlace duma qualquer história, e todas as tragédias valem por serem universos inteiros para quem os viveu.
473

“Nesta encruzilhada, pareces-te mesmo com o homem da dança” dissera a voz, que acrescentou: “Andaste perdido, mas agora estás de volta.”
Perdido de volta.
493


Troca no SKOOB

O que é Psicologia? - Maria Luiza S. Teles [trechos]

Doenças psicossomáticas (distúrbios emocionais) que se refletem fisicamente no organismo, como é o caso da maioria das úlceras.
8

[...] No sentido etimológico, seria a ciência da alma ou o estudo da alma.
Foi a partir daí que os gregos começaram suas especulações. Achavam que todo ser humano possuía uma contraparte imaterial do corpo, de onde provinham os processos psíquicos, dos quais o cérebro seria apenas mediador.
9

René Descartes (1596-1650) - distinção entre corpo e mente.

Material - os organismos sub-humanos, que sofrem processos fisiológicos, como alimentação, digestão, circulação sanguínea, funcionamento nervoso, movimentos musculares e crescimento.

Mente - raciocinar, conhecer e querer.

Interação da mente com o seu correspondente físico - sensação, imaginação e instinto (impulsos para a ação).
10

O empirismo inglês e o racionalismo alemão

A filosofia empirista enfatizou, pois, os papéis da percepção sensorial e da aprendizagem no desenvolvimento da mente. John Locke, empirista inglês, afirmava que a criança nascia com a mente como uma tabula rasa, página em branco onde a experiência e a percepção sensorial iriam inscrever todo o conteúdo.
Os empiristas ressaltavam o papel da memória e das associações mentais, para justificar a base sensorial do conhecimento.

Associacionismo, considerado por muitos como a verdadeira ruptura entre a Psicologia e a Filosofia.
11

Os racionalistas alemães, por outro lado, afirmavam que a mente teria o poder de gerar ideias, independentemente da estimulação sensorial. O conhecimento se basearia na razão e a percepção seria um processo seletivo.
11-12

Podemos afirmar, aliás, que, ao longo do século XIX, o que existe e é praticado nos laboratórios é uma psicofísica ou psicofisiologia, tamanha a confusão entre os princípios da Física e da Biologia e os estudos psicológicos.
O nascimento da Psicologia como disciplina autônoma só vai ocorrer, verdadeiramente, a partir de 1879, em Leipzig, com a criação por Wundt do primeiro laboratório exclusivamente dedicado aos estudos psíquicos.
A Psicologia passa, então, a ser considerada ciência, pelo simples fato de os cientistas a ela se dedicarem experimentalmente. Entretanto, não se fala ainda em comportamento, conduta ou ação.

A consciência - sede das percepções, ideias, sentimentos e motivos.

No início do século XX, com o aparecimento das chamadas escolas psicológicas: Estruturalismo, Funcionalismo, Behaviorismo, Gestaltismo e Psicanálise, ocorre um rompimento com o dualismo implícito na Psicologia, então definida como a ciência do psiquismo ou dos fatos da consciência.
13

Psicologia se preocupa com o Homem.
14

Homem - ser capaz de criar cultura, emocionar-se, perceber o que se passa com seus iguais e sentir com eles.

O Behaviorismo entende o Homem como sendo uma caixa preta, sua mente e psiquismo como inacessíveis ao estudo pela Psicologia. Os behavioristas resumem tudo em Estímulos e Respostas. Para eles, cada estímulo determina uma resposta específica.
15

O observador ser também humano- e conhecer a história e a cultura particular do observado - lhe permite penetrar nessa caixa preta, por um processo de identificação.
15-16

O Homem é um animal essencialmente diferente de todos os outros. Não apenas porque raciocina, fala, ri, chora, opõe o polegar, cria, faz cultura, tem autoconsciência e consciência da morte. É também diferente porque o meio social é seu ambiente específico, Ele deverá conviver com outros homens, numa sociedade que já encontra, ao nascer, dotada de uma complexidade de valores, filosofias, religiões, línguas, tecnologia.
19

Longos anos haverão de se passar até que o ser humano tenha condições físicas, intelectivas e emocionais para sobreviver em seu ambiente próprio. O animal é provido de instintos, o homem não. Por isso ele terá que aprender quase tudo.

instinto: uma série de atos repetitivos que levam a determinado fim.
20

O ser humano tem, portanto, reflexos, necessidades, impulsos, mas não instintos, pois, para atender às necessidades mais primárias, necessita de alguma aprendizagem. Ele tem o impulso de sobrevivência, a necessidade de alimento etc., mas para atendê-los precisa aprender. E vai aprender de acordo com os padrões correntes em sua sociedade específica e em sua família.
22

...o Homem não seria capaz de fazer cultura nem de pensar sem a linguagem.
A linguagem permite ao Homem legar o presente ao passado e antecipar o futuro.
Sem a linguagem, tanto oral quanto escrita, teríamos de estar eternamente recomeçando,...
23

Nossa visão de mundo, a maneira como vamos compreender a realidade estão estreitamente ligadas à linguagem. É através das nossas relações com os outros, em que a linguagem se coloca como fator primordial, que vamos elaborar nossas representações do que é o mundo.
24

...temos necessidades físicas, psíquicas e sociais que nos levam a agir em busca de satisfação ou redução de tensão.
insatisfação, tensos, músculos se enrijecem e certas glândulas liberam determinados hormônios em nosso sangue.
26

Quando este objetivo é alcançado, há a redução de tensão e, portanto, o relaxamento. Estado de equilíbrio que o organismo alcança com a satisfação da necessidade chamamos de homeostase.
27

O Homem, um organismo biológico que, em contato como os outros de sua espécie, deverá tornar-se Pessoa, Gente, Ser Humano. Desenvolver um Self, que é a consciência de si, a capacidade de se ver e se analisar, de perceber o que o outro pensa e sente, colocando-se em seu lugar.

Além dos reflexos, o equipamento humano inato presume impulsos, necessidades, emoções básicas, mecanismos de resposta, capacidade de percepção, potencial intelectual, processos sensórios, memória, temperamento.
28

É da interação Eu-Mundo que há de se formar a personalidade.
O Mundo implica uma série de regras, limitações, conceitos: (...) o Eu tentando preservar a individualidade e a Sociedade tentando impor seus conceitos e padrões.
29

(...) reações que se apresentam como úteis, em determinado momento, para a redução de tensão excessiva, podem ser perigosas para o ajustamento geral do indivíduo. Daí pode surgir o desajustamento pois estas reações costumam tornar-se tão firmes como hábitos, que o indivíduos e torna incapaz de superá-las.
30

(...)o sujeito vai reagir ao mundo conforme ele os percebe.

O processo de desenvolvimento humano é um processo de ajustamento. Todos devemos atender a uma série de necessidades internas e, ao mesmo tempo, às imposições e limitações do ambiente, tanto social quanto físico. Em suma: o objetivo de todo comportamento é a aquisição de um repertório de respostas que nos permitam harmonizar as duas tendências.

Frustração é exatamente o contrário da satisfação.
32

...frustração por demora, por contrariedade e por conflito.
A frustração por demora é talvez a mais comum e aquela a que as pessoas se adaptam com maior facilidade. (...) a criança é quem mais sofre com ela, pois não tem ideia real do tempo e desconhece que a satisfação poderá vir em seguida.
A frustração por contrariedade ocorre quando alguma interferência, alguma barreira nos separa de nosso objetivo. (...) Este tipo de frustração é bem mais doloroso e difícil de ser suportado.
33

Frustração por conflito acontece quando nos vemos diante de duas exigências e só podemos atender a uma.
33-34

Agressão, agressão deslocada, regressão, fantasia, fixação, apatia e outros mecanismos de defesa costumam ser consequência de frustração, assim como o esforço intensificado, a mudança dos meios e a substituição do objetivo.
- agressão: o marido chega em casa com fome e, não encontrando o almoço pronto, agride verbalmente a esposa.
- agressão deslocada: o garoto impedido pelos pais de ver um filme, não podendo se voltar contra eles, bate no irmão menos por questão de somenos importância.
- fantasia: a moça que, não conseguindo conquistar determinado rapaz, passa, com frequência, a imaginar-se nos braços dele, em situações amorosas.
- regressão: a criança, já grandinha, que, por um fracasso na escola, volta a urinar na cama.
- fixação: alguém que com gritos conseguiu, em alguma ocasião, alcançar seu objetivo, repete sempre o mesmo comportamento toda vez que deseja obter algo, embora a estratégia possa não mais funcionar.
- apatia: um garoto, depois de repetir o ano várias vezes na escola, não mais se esforça no estudo e não se importa com mais nada.
- esforço intensificado: alguém que, tendo perdido um concurso, passa a estudar com mais afinco para o próximo.
- mudança dos meios: um macaco peleja para alcançar uma banana colocada a uma certa distância da jaula e não consegue; pega, então, uma vara e puxa com ela a banana.
- substituição de objetivos: a moça abandonada pelo noivo, que arruma outro namorado.
- racionalização: a maneira de justificar logicamente o que fazemos e aquilo em que acreditamos. Exemplos: "não passei no concurso porque as provas foram mal elaboradas"; "não dancei com fulano porque ele não me interessa" (sendo que ele nem tomou conhecimento da presença dela; este é o mecanismo das uvas verdes); "estou muito satisfeita por meu filho ter perdido o vestibular, acho que é bem melhor que ele trabalhe" (mecanismo do limão doce).
- compensação: a pessoa disfarça as fraquezas mediante o realce de uma característica desejável ou encobre a frustração numa área pela excessiva gratificação em outra. Exemplos: pessoa que, frustrada sexualmente, se compensa alimentando-se com exagero; o menino de constituição franzina que, não conseguindo sobressair-se nos esportes, dedica-se intensamente aos estudos e consegue ser o primeiro da classe.
- projeção: significa culpar outros pelas nossas dificuldades ou atribuir-lhes os próprios desejos não-éticos. É, portanto, uma forma de auto-engano, pela qual atribuímos a alguém nossas limitações, desejos, pensamentos indesejáveis e, inclusive, motivos e comportamentos que expliquem nossas atitudes. Exemplo: uma mulher desejava fazer um curso superior, mas nunca se animava a prestar o vestibular. Por fim, vivia se lamentando e dizendo que não havia estudado porque o marido nunca a incentivara.
- identificação: é a assimilação das qualidades de uma personalidade qualquer que possui o desejado, aumentando com isso o sentimento de valia própria. Exemplo: uma pessoa que se ressente com a pobreza procura imitar o comportamento de indivíduos de classe social mais abastada, sentindo-se com isto superior.
-fuga: mecanismo através do qual o sujeito evita a situação que pode provocar-lhe frustração. Exemplo: um aluno, despreparado para um exame, apresenta no dia marcado uma terrível dor de cabeça, que o impede de realizar a prova.
- negação: a pessoa se nega, sistematicamente, a enxergar a realidade dolorosa. Por exemplo: a mãe que, avisada de que seu filho usa drogas, não procura investigar e afirma com veemência que aquilo não é verdade.

É impossível viver sem frustrações. Entretanto, a frustração crônica pode ter efeitos bastante deletérios, como o abalo da saúde física. A frustração prolongada pode provocar distúrbios como úlceras, pressão alta, asma, erupções cutâneas, dentre outros.

Todo indivíduo tem determinado nível de tolerância à frustração. Sempre que ela ultrapassa este nível, desorganiza-se o comportamento.
34-37

Dependendo da natureza do conflito, o sujeito pode apresentar desde ligeira indecisão até bloqueio completo ou enorme tensão.

conflitos: teatro ou cinema? (duas opções agradáveis) amar alguém com gênio ruim (o objetivo é, ao mesmo tempo, agradável e desagradável) vender relógio ou não pagar aluguel? (as duas opções são desagradáveis).

Em situações de conflito ou frustração, o indivíduo tende a apresentar ansiedade.
38

Pode-se descarregar temporariamente a tensão psicológica mediante catarse, mas esta não resolve o conflito. As soluções a largo prazo, entretanto, dependem de se encontrar formas socialmente aceitáveis, evitando as valências negativas ou substituindo a valência positiva por outra menos ativadora de ansiedade.
A ansiedade é bastante semelhante ao medo e desencadeia as mesmas sensações físicas, como tremores, taquicardia, transpiração, palidez etc. O medo é reação diante de perigo real, objetivo, enquanto a ansiedade é sensação difusa diante de perigo imaginário ou oculto e subjetivo.
A característica principal da ansiedade é a impressão de que algo terrível e indefinido ameaça o indivíduo, algo conta o qual ele se sente impotente.
39

A ansiedade crônica ou prolongada é extremamente danosa ao organismo, provocando reações psicossomáticas que podem ser bastante significativas.

a ansiedade pode resultar em duas reações diferentes: depressão ou excitação, ou ambas alternadas. Há sintomas particulares somatizados: o corpo apresenta rigidez muscular, manifestada por movimentos secos e gesticulação sem fluidez; a respiração torna-se retida, tensa, superficial. Se predomina o sistema nervoso simpático, aparecem falta de apetite, digestão lenta, prisão de ventre; se o parassimpático, surgem apetite voraz, rapidez digestiva, compulsão alimentar. No primeiro caso, tendência à agitação, descontrole da imaginação, insônia; no segundo, apatia e sono exagerado. Em ambos os casos estão presentes as sensações de fadiga ou esgotamento.

A tensão excessiva pode causar temor, instabilidade afetiva, susceptibilidade, incapacidade para suportar o desagradável, incapacidade de concentração, pouco rendimento intelectual. O indivíduo se torna desanimado, indolente, ou se compensa no ativismo, apresentando instabilidade.
40

O conflito, a frustração e um certo grau de ansiedade fazem parte da dinâmica da vida. Entretanto, quando passam a ser uma constante (...) instala-se nele a neurose.

Nos conflitos neuróticos, as tendências contraditórias em ação não são reconhecidas, mas profundamente reprimidas; os fatores emocionais são racionalizadas e as tendências em ambos os sentidos são compulsivas, fortes, irresistíveis. Sendo os conflitos inconscientes, as tendências opostas reprimidas e as emoções sempre racionalizadas, torna-se então extremamente difícil, quase impossível, ao indivíduo resolvê-los sem ajuda exterior.
41

O indivíduo apresenta medos generalizados: de enlouquecer, de ser desmascarado, do ridículo, da desconsideração, da humilhação, de qualquer situação de mudança. Desperdiça muita energia, estagnando-se na ineficiência e na incapacidade de assumir uma atitude definida. Apresenta depressão crônica, passando a preocupar-se com o futuro, a morte, ideias suicidas e mostra desencorajamento, desalento, conformismo. Algumas vezes, revela tendências sádicas, com a escravização moral e psíquica de outrem, manejamento das emoções alheias, exploração e humilhação de outrem, tendência para depreciar (gosto de focalizar os defeitos dos outros), inveja e sentimento de vingança, sadismo revertido (espécie de masoquismo ou gosto pelo sofrimento).

Sentimentos de culpa são expressão de ansiedade ou de defesa contra ela. São, também, efeito do medo da reprovação. Mas por que o neurótico tem de reprovação? Em primeiro lugar, por causa da discrepância entre a fachada, que apresenta para si e para os outros, e as tendências recalcadas que jazem por detrás; em segundo lugar, porque quer esconder o quão fraco e insegura se sente; e, finalmente, porque, mais do que os outros, tem necessidade da aprovação alheia que significa, para ele, a segurança do afeto.
42

impedindo-o de viver uma vida normal e sadia.

Os sentimentos de culpa costumam manifestar-se através de auto-recriminação, sutil ou declarada; do medo de ser censurado; da necessidade de expiação através do sofrimento; do perfeccionismo;da hipersensibilidade em relação a qualquer desaprovação; da cautela para não cometer enganos; do refúgio na ignorância, na doença, na incapacidade e na posição de vítima.
43

Psicanálise - forte base na Biologia, mas abrindo perspectivas para um estudo mais amplo e centrando suas pesquisas no Homem.

Psicologia Transpessoal / Parapsicologia, à Física e à Psicobiofísica.
45

descoberta por Sigmund Freud, a psicanálise ... se fundamenta sobre a teoria do recalcamento (repressão de necessidades), significando, também, método de exploração do psiquismo humano e terapêutica para certas neuroses.
46

impulso ou motivo
47

Para ele, a personalidade é composta por: id, ego e superego - biológico, psicólogo e social.
id - impulsos primários.
ego - consciência, conciliador, solucionador, planejador. Busca o relacionamento com o ambiente.
superego - consciência moral, censor, normas, exigências, valores.
A atividade psíquica é consciente e inconsciente, sendo que a parte consciente não é senão a ponta do iceberg
48

Para Freud, a infância é a ápoca decisiva na organização da personalidade e é nesta fase que têm origem as neuroses e psicoses.
As frustrações intensas que ocorrem na infância, e os efeitos educacionais como a superproteção, a instabilidade, o controle rígido, a carência de afeto levam o indivíduo à angústia, agressividade, revolta, insegurança, timidez, dependência, irritabilidade, nervosismo etc., comportamentos estes que, por sua vez, motivarão outras formas inadequadas de contato com o ambiente.
Também os conflitos havidos neste período, determinando a repressão dos impulsos, podem produzir, mais tarde, a desintegração da personalidade. Eles não morrem, mas ficam dinâmicos no inconsciente.
É na infância que se adquirem os complexos, tendo importância básica o de Édipo (do menino) ou Eletra (da menina), que é a atração experimentada pelo genitor do sexo oposto, acompanhada de ciúme com relação ao outro. Este complexo pode ser resolvido com a identificação da criança com um dos pais (o do mesmo sexo). Este processo de identificação é importantíssimo para a futura vida amorosa do indivíduo.
49-50

O conflito é sempre um choque entre os desejos do id e a censura. A libido (forças da vida, busca do prazer) recalcada procura sempre válvulas de escape: sonhos, arte, cultura, sintomas neuróticos.
50

indivíduo saudável emocionalmente? ... criativo, amoroso, receptivo, perceptivo, decidido, capaz de verdadeira intimidade, verdadeiro, espontâneo.
51

Atualizar é tornar verdadeiro, existir de fato e não somente em potencial. Assim, auto-atualizar é aprender a sintonizar com sua própria natureza íntima. Isto significa decidir-se sozinho. A honestidade e o assumir responsabilidade de seus próprios atos são elementos essenciais na auto-atualização. Ao invés de posar e dar respostas calculadas para agradar outra pessoa ou dar a impressão de sermos bons, devemos procurar as respostas em nós mesmos. Toda vez que fazemos isto entramos em contato com o nosso íntimo.
Auto-atualização é também um processo contínuo de crescimento, de desenvolvimento das próprias potencialidades. Isto significa usar a inteligência e habilidades e "trabalhar para fazer bem aquilo que queremos fazer".
Um passo além na auto-realização é conhecer as próprias defesas e então trabalhar para abandoná-las. Precisamos nos tornar mais conscientes das maneiras pelas quais distorcemos nossa auto-imagem e a do mundo exterior através dos mecanismos de defesa.
Os humanistas acreditam que o homem tem uma potencialidade infinita para expandir-se crescer, realizar-se e que todo comportamento visa a este objetivo.
A tendência inata à auto-realização pode ser descrita como a tendência do organismo para reduzir as impulsões biogênicas (ou fisiológicas), tornar-se independente do ambiente, usar tanto quanto possível suas habilidades, criar e chegar a níveis mais altos de eficiência.
"Tornar-se pessoa" significa libertar-se das peias internas, tornar-se capaz de um contato verdadeiro (intimidade) com o outro, não fazer jogos, não usar máscaras, não se satisfazer com o simples ajustamento, mas tender a criar novas ideias e coisas, ser cooperativo, receptivo e amoroso.
53

E-R
associação entre estímulos e respostas.
54-55

A teoria de Pavlov é a do condicionamento clássico, em que um estímulo neutro, como o som de uma campanha, é sistematicamente emparelhado com algum outro estímulo, como um choque elétrico, que produz regularmente uma resposta forte e incontrolável da parte do sujeito.

Thorndike é a sua Lei do Efeito. Esta lei diz que a conexão entre um estímulo e uma resposta é fortificada quando a associação entre eles satisfaz o organismo.
55

Alimento, elogio, dinheiro, um balançar de cabeça e um sorriso são exemplos de reforços positivos. Reforço negativo, aquele que provoca uma resposta esquiva, isto é, o indivíduo evita determinado comportamento com medo da punição. Ex: um garoto que tirou notas baixas na escola é proibido pelos pais de ver televisão por um mês. O garoto, então, estuda mais para evitar o castigo.

Para que a punição seja efetiva é melhor dar uma resposta alternativa que resultará num reforço positivo.
56

A Psicologia Transpessoal parece surgir a partir de vertentes como o trabalho de Jung, os trabalhos de Einstein, dos físicos modernos, a Filosofia Oriental e as correntes de auto-realização.
57

o anormal está se tornando normal
61

neurose coletiva
empobrecimento afetivo
emoções violentas
total isolamento
dicotomia moral
Uma pessoa que perde a sua unidade, a sua integridade, a sua coerência, perde o eixo de si própria e não tem mais condições de funcionar como um ser humano.
62

sentimentos de culpa
inconsciente
alienação
realidade
fanatismo religioso e político
competitividade desgasta
cooperação
é triste ver que os próprios pais e a Escola, ao invés de incentivarem o espírito associativo e cooperativo das crianças e dos jovens, preparam-nos, desde cedo, para uma acirrada competição.
ideal consumista
63

decomposição do sistema capitalista
Não podemos aceitar que um Sistema em que já não acreditamos continue a determinar nossos comportamentos e reivindicações.¹
67

¹esse último parágrafo é o que define todo o viés político dos livros dessa coleção.

When You're Gone



A gente só sabe a diferença entre apaixonar-se e amar alguém quando a gente encontra o amor. As pessoas chamam de amor verdadeiro, mas não existe amor falso. Existe amar ou não amar.
Com a morte de Dolores O´Riordan, a voz que canta muitas vezes durante meus banhos e momentos de melancolia, me dei conta de uma música que eu simplesmente deletei do meu mp3 e dos meus arquivos.

When You´re Gone foi a música que por muito tempo já não escutava. Anos sem ouvir ou cantar. Eu treinei essa música no violão durante dias. Antes disso, tive de escolher com cuidado a música que eu queria tocar. Tentava cantar em vários tons para encontrar o menos ruim que minha voz era capaz de chegar.

Foi assim que repeti por dias e dias a música When You´re Gone no meu mp3. Cantando e treinando as notas no violão. Escolhi uma canção que, ao mesmo tempo que era linda e fazia todo o sentido, também era fácil de tocar.

Eu imaginava quando e onde eu ia tocar essa música para o primeiro amor da minha vida. E entre angústias, decepções e tristezas, resolvi abrir mão de um amor que não ia vingar. Tem coisas na vida que a gente precisa resolver no preto e branco de uma vez por todas, mesmo que isso te faça chorar por dias, meses, anos.

A questão é que eu nem lembrava mais que essa música existia e que tinha mexido tanto comigo. Quando resolvi deixar de amar alguém, eu quis simplesmente deletar tudo que me lembrasse essa pessoa. E essa música era o que mais me lembrava. Quando eu escutava The Cranberries, eu podia muito bem chorar com qualquer uma das músicas ali, mas When You´re Gone me fazia desidratar.
Óbvio que eu não tinha dado continuidade ao plano idiota de cantar e tocar essa música para o primeiro amor da minha vida. Ainda bem. E hoje, posso incluir ela no meu mp3 sem lembrar daquela criatura.

A gente não escolhe a quem amar, simplesmente acontece. Mas sempre temos a opção de sermos racionais e termos amor próprio. E acredite, quando se ama, e se ama ´de verdade´ como as pessoas dizem, é mais fácil de tomar certas decisões do que estar-se apaixonado. Eu tive amor próprio, e por isso escolhi a mim e não perder tempo com alguém que queria jogar como bem entendesse com meus sentimentos. Eu dei um basta e sobrevivi. E graças a Deus eu não escolhi uma vida infeliz.

escrito no dia da morte de Dolores

sábado, 13 de julho de 2019

corrida 5km na orla de Olinda


Essa corrida foi especial mas ao mesmo tempo desgastante.
Acabei forçando o joelho para completar a minha meta. Eu não sabia exatamente a distância que estava fazendo, mas eu sabia que era a maior distância que eu já tinha feito na orla.

Acredito que a primeira etapa da corrida eu fiz em 15 minutos mais ou menos. Dois quilômetros, na média. Parei para marcar uma aula na outra avenida. A segunda etapa (5km) eu fiz mais ou menos em 29 minutos.

Na esteira, dava uma média de 7 minutos por quilômetro.

Mas tem um detalhe. A distância que marquei no google está em linha reta, provavelmente corri um pouco mais. O único porém de correr na orla é que muita gente vai te atrapalhar. Uma família caminhando com filhos, gente que só caminha agrupado, ciclista, cachorro, criança. Chega num ponto da orla que fica mais estreita. Mas não passei para esse lado. Acho que nunca vou passar, apesar de ter menos pessoas para atrapalhar - é um pouco esquisito.

Achei que dessa vez eu fui mais lenta, pode ter sido impressão minha, e que a corrida iria durar mais tempo. Eu calculei que fosse terminar 10 minutos antes da aula de funcional na academia. Mas na verdade cheguei quase uma hora antes da aula começar.

Eu senti muito o joelho esquerdo depois. Treinei duas vezes no dia seguinte mesmo com o joelho ruim. Mas percebi que a dor era maior quando estava parada. Consegui treinar normal com ele assim.

Quatro dias depois ainda estou sentindo um pouco, mas já estaria disposta a correr novamente.

Deu para perceber que ainda não estou preparada para participar de uma corrida de 5km. Precisaria fazer essa distância mais vezes. Não foi fácil. Mas consegui!

Total: 7km
Na corrida estava ouvindo:
1-2: Heroes [Japan Reissue], David Bowie
2-3: Angels Cry, Angra

Foram pelas músicas que calculei +/- a duração das corridas, rs.
A primeira corrida foram 3 músicas e 1/2 mais ou menos.
A segunda foram 5 músicas, algumas longas, do Angra.

quinta-feira, 27 de junho de 2019

pôr do sol de abril e lembranças que não voltam


Mais um dia de corrida. Nothing special.

Fui levar um material perto e aproveitei a oportunidade para dar uma corridinha.

Hoje foi só uma corridinha bem lenta. Acelerei o ritmo como se fossem os 100 metros rasos.
[Parece que tem um tom de humor aqui].

Fiz praticamente a mesma distância da caminhada, uns 2,9km [durou uns 20 minutos de corrida].

Só deu para ver ao horizonte apenas uma nuvem com reflexo do pôr-do-sol. O céu já estava tomado por um azul arroxeado escuro, pesado. Muito sombrio.
[humor]

Bastante diferente de quando fui resolver não-sei-o-quê na autoescola. O pôr-do-sol estava lindo. O reflexo rosa e laranja na água do mar. O azul do céu, o verde das árvores. Quando cheguei do retorno, tive de parar um pouco no dique, ouvir uma música mais calma e romântica do meu mp3 [só revelo quem pros especiais] e me conectar com as ondas do mar. É automaticamente meu modo de meditação. A lua já estava à vista, o que só fez prolongar o tempo...

São em momentos como esse que eu queria eternizar numa fotografia time-lapse.

Em um certo momento, me virei para seguir aqueles últimos raios de sol e tentei "decorar" aquela vista e fazer um teste de memória. Fiz um esboço daquele dia no meu caderno, com os diques, coqueiros, postes e enfim. Nada que eu vá compartilhar com alguém.

Aliás, isso tudo aqui não passa de registros da minha memória.

Eu tive meus devaneios e traumas. Algumas coisas eu realmente quis esquecer, mas não todas. Porém minha memória não funciona mais como antes. Talvez tenha afetado alguma parte do cérebro. Sei lá. Teorias. Mas esqueci das coisas boas também. Não tenho tantas lembranças. Não sou velha não, por isto mesmo isso me preocupa. Minha avó teve Alzheimer, morreu disso - talvez escrever me ajude a evitar.

Não que eu vá viver do passado, pelo contrário. Vivo mais pelo futuro até mais que o presente. É uma lástima viver assim, não me orgulho nem um pouco. Não queria ser assim, porém eu sou assim. Eu sei que tive uma infância memorável e se eu tivesse boa memória daria um bom livro, mas de resto não me importo. Não tenho orgulho da minha adolescência, mas foi uma fase da qual aprendi muitas coisinhas. Não me importo de apagar isso da minha memória.

Estou mesmo é ansiosa para ser uma velha de meia idade. Eu consigo me ver lá longe (nem tão longe assim). Mas eu não sei o que D'us me reserva, posso morrer antes. Não me preocupo. Portanto que aconteça algumas coisas boas antes, por mim tudo bem. Senão, ficarei com raivinha.

A questão toda é que quero ter histórias para contar quando chegar lá. Mesmo que seja só para mim, mas que eu consiga sorrir, me orgulhar, não sentir falta mas criar novas lembranças a partir de lá. Ir à frente e morrer em paz, plena.

quinta-feira, 13 de junho de 2019

a corrida no dia dos namorados


[enquanto escrevo]

Ontem (11/06/19), eu voltei a aumentar a carga nas máquinas de musculação, parte superior. E eu não sei o nome daquelas benditas, odeio musculação. Logo em seguida fui pra aula de funcional que também focava os membros superiores.

A primeira série já senti o peso de ter trabalhado os braços: montanhista, [não sei o nome, mas você fica na mesma guarda alta do montanhista e toca a mão no ombro oposto tentando não mexer muito o corpo, quadril] e a clássica prancha.

A segunda foi mais dinâmica com burpee, abdominal borboleta e flexão de braço no banco. Ainda bem que foi no banco porque se fosse no chão eu não teria condições. Meus braços estavam sem força.

Hoje seria o dia em que eu ia dar uma corridinha na esteira e ir treinar judô. Mas devido ao dia dos namorados, não teve. Então tomei a inteligente decisão de correr na orla.

Eu acho que eu fui uns 500 metros além do que eu já tinha feito antes. Não dá pra ter certeza por motivos óbvios, mas segundo a minha pesquisa do Google deu 450 metros a mais. Mas dessa vez tem algo que fez a maior diferença de outras corridas que fiz anteriormente.

Antes eu ia até um certo ponto, resolver um B.O. (então eu tinha um tempo ai de descanso e até tomava dois copos d'água) e só depois eu voltava.

Dessa vez eu não parei. Já estava bastante cansada e com muita sede...

Vou abrir um parenteses aqui porque eu não falei das minhas condições quando saí de casa pra essa corrida: quando eu já estava à caminho da orla [da minha casa para orla são 700 metros], tinha me arrependido de não ter tomado pelo menos um copo de água porque já estava sentindo sede. Quando eu cheguei lá na orla, senti uma dorzinha chata no pé da barriga. E aí comecei a fazer um exercício de respiração para circular oxigênio. Senão, não teria condições de aguentar a corrida.

Mesmo enquanto estava fazendo o exercício de respiração, comecei a aumentar o ritmo dos passos. Assim que a dor passou comecei a correr - uns 500 metros depois.

Eu não fazia ideia do quanto eu ia aguentar. Eu só queria ir um pouco além do que tinha ido antes [meu ponto de referência inicial (p/ retornar) era o habbibs]. E como eu disse antes, fui bem além. Digo assim porque não teve parada para descanso. Eu fiz 4km, mais ou menos, sem parar.

Eu já estava muito cansada antes mesmo de chegar no ponto que fui 1 semana e meia atrás. Mas estava muito decidida a ir além. Então usei o controle da respiração para poder ir mais longe. Tanta coisa passa na minha cabeça quando estou tão cansada. Porque eu tento pegar um ponto de referência que marque o ponto de retorno da corrida.

Acabei chegando no final no Flat 4 rodas e fiz a voltinha do retorno. Eu queria muito só parar quando chegasse no ponto onde iniciei - no quartel de Olinda. Em determinado momento eu pensei que não fosse conseguir. Meus tornozelos estavam doendo, respiração estava mais ofegante. Mas consegui. E fiquei muito feliz por isso. Foi uma realização pessoal.

Eu já fiz 4km várias vezes na esteira. Com muita dificuldade sim, mas foi na esteira.

Eu sempre soube, quando comecei a corrida na esteira, que correr na rua é diferente e mais cansativo. Mas não sabia na prática até experimentar.

Eu bem sei que há milhares de pessoas por aí que faz 42km e eu nem sequer cheguei aos 5km com tranquilidade. Mas só estou tentando ir além de mim mesma. SE eu chegar lá, vai ser só consequência disso.

[a trilha sonora dessa minha corrida foi em homenagem ao grande mestre]

Acho que vou fazer outro post sobre uma outra corrida que fiz em abril, mas vai ter bem menos detalhes e mais filosofia.

domingo, 26 de maio de 2019

se apaixonar pela pessoa errada


"- Por que me sinto atraído pela pessoa que sei que não é a certa?
- Eu sei a resposta. Porque você torce para estar enganado. Quando ela erra, você ignora. Quando ela acerta, ganha a sua afeição e você esquece que ela não era para você.

Eu estava saindo com alguém em Londres. Trabalhamos no mesmo jornal. Descobri que ele ficava com outra garota também, a Sarah, do Departamento de Circulação. Ele não estava apaixonado por mim como eu pensava. Estou tentando dizer que compreendo como é se sentir pequeno e insignificante como ser humano. Como isso dói em lugares que nem sabíamos existir lá dentro. E não importam seus novos cortes de cabelo, suas novas academias, nem os copos de Chardonnay que beba com as amigas, quando se deitar, continuará relembrando cada detalhe e se perguntando o que fez de errado ou por que não percebeu. E como pôde, por aquele breve momento, achar que era feliz? Às vezes até se convence de que ele vai se tocar e aparecer na sua porta. E, depois de tudo isso, seja lá o tempo que demorar, você vai para um lugar diferente e conhece gente que a faz se sentir querida novamente, e os pequenos pedaços de sua alma finalmente retornarão. E toda aquela bagunça, todos aqueles anos que você perdeu na sua vida, começarão a desaparecer."

The Holiday (2006)

segunda-feira, 18 de março de 2019

Trecho Lobo da Estepe (Hermann Hesse)


"A maioria dos homens não quer nadar antes que o possa fazer. Não é engraçado? Naturalmente, não querem nadar. Nasceram para andar na terra e não para a água. E, naturalmente não querem pensar: foram criados para viver e não para pensar!
E quem pensa, quem faz do pensamento sua principal atividade, pode chegar muito longe com isso, mas sem dúvida estará confundindo a terra com a água, e um dia morrerá afogado".

Lobo da Estepe
Hermann Hesse