sábado, 24 de novembro de 2012

Julia Margaret Cameron

Retrato da fotógrafa Julia Margaret Cameron, 1862

A rainha Vitória teve reinado de 1837 a 1901. Período que ficou conhecido como a “Era Vitoriana”, tempos de prosperidade econômica, política e cultural. Na fotografia, surgiu: Julia Margaret Cameron (1815-1879).
Nasceu em Calcutá, de pai inglês e mãe francesa. Foi educada na França, voltou à Índia, conheceu seu marido e lá residiu até se mudar para a Inglaterra em 1848. Começou a fotografar em 1864, aos 48 anos de idade, ao ser presenteada por sua filha com uma câmera para amenizar a solidão. Entre as irmãs, ela era considerada o “patinho feio” — mais tarde, Virgina Woolf a definiria como a talentosa dentre as três irmãs, no prefácio de sua primeira coleção de fotografias, publicada pela Hogarth Press em 1926.
Cameron fotografava por prazer e deixou uma marca siginificativa para a história da fotografia. Sua obra é tão especial, que fotógrafos de todas as idades e do mundo inteiro ainda buscam inspirações em seu prazer mais belo. Sua estética mescla subjetividade, teatralidade e uma luz bem peculiar. Uma das características mais marcantes das fotografias de Cameron são os “olhares” que os fotografados carregam.

A morte do Rei Arthur, 1975
Transformou em estúdio o celeiro de Dimbola Lodge, seu lar na Ilha de Wight, e passou a retratar desde crianças, familiares e amigos até celebridades vitorianas, dentre as quais Charles Darwin, o poeta laureado e vizinho Alfred Lord Tennyson, os pintores John Everett Millais e George Frederick Watts, e o astrônomo John Herschel. Herschel, figura fundamental no desenvolvimento da invenção da fotografia, nutriu uma amizade de mais de 30 anos com Cameron, que a ele atribui parte de seu aprendizado: “meu grande professor nesta arte, que comigo correspondeu enquanto estava na Índia e me enviava todos os espécimes do avanço da ciência”. O manuscrito foi registrado pela fotógrafa em um dos 4 retratos que fez de Herschel.
Cameron fez parte da comunidade artística local, Freshwater Circle, e recebia seus amigos frequentemente, por vezes aproveitando-se de suas presenças para retratá-los. O Freshwater Circle é assunto cômico em “Freshwater“, única peça escrita por Virginia Woolf, sobrinha-neta de Cameron.
Mary Hillier, funcionária doméstica de Dimbola Lodge, foi, segundo a fotógrafa, “uma das  mais bonitas e constantes de minhas modelos. Em todo tipo de forma seu rosto foi reproduzido e, ainda assim, nunca senti findada a graça de sua moda. (…) os atributos de sua personalidade e complexidade de sua mente são as maravilhas daqueles cujas vidas se fundiam às nossas como amigos íntimos da casa”.

"I Wait", 1872

Sua obra é bastante singular em estilo e assunto, e é essencialmente composta de retratos de rosto e alegorias de cenas religiosas ou literárias. Cameron utilizava acessórios, indumentária de época e tecidos em seus cenários, criando uma aura onírica e remetendo a tempos passados e ficções fantásticas. Seus modelos eram normalmente obrigados a posar por horas, não só por conta do processo de colódio úmido utilizado, mas também pelas exigências da fotógrafa. Estava interessada em dar a conhecer sua beleza natural, pedindo aos modelos femininos que deixassem os cabelos soltos para mostrá-los de uma maneira que não estiveram acostumados a se apresentar. Embora a suas fotografias faltasse a agudeza que outros fotógrafos aspiravam naquele tempo, a estes sucedeu divulgar a aura emocional e espiritual dos modelos de Cameron.

The Gardeners Daughter 1867
Seu trabalho foi a maneira que encontrou de protestar contra a Reforma Religiosa. Ao observar suas imagens, principalmente as femininas, encontram-se traços de figuras divinas: suas modelos são quase sempre retratadas com o rosto virado, com a cabeça coberta de panos; algumas, até com asas. O foco suave e a experimentação na composição, os tons escuros e a iluminação simples são algumas das características de seu trabalho. Muitos críticos comparam suas fotografias a pinturas a óleo, o que foi precisamente a intenção de Cameron nas imagens que produziu para ilustrar os doze volumes de “Os Idílios do Rei”, a convite de Tennyson, autor da obra. J.M. Cameron realizava as mesmas características das pinturas que as inspiravam. O individualismo, a expressão dramática e o subjetivismo são as marcas principais de seu portfólio. 
Sua estética veio de um erro, como ela mesma afirmou em um de seus escritos. Sua primeira câmera só permitia um ponto de foco, desfocando os demais; como o retratado tinha de ficar posando por volta de sete minutos, qualquer movimento ajudava a criar mais desfoque. Logo Cameron percebeu o valor artístico deste erro, mantendo-o, mesmo adquirindo seus próximos equipamentos.

Charles Darwin, 1969
Suas fotografias passaram muito tempo esquecidas, até que foram recuperadas por Alfred Stieglitz.
Sua obra caiu na graça do público após ter sido resgatada pelo historiador Helmut Gernsheim, no livro “Julia Margaret Cameron: Her Life and Photographic Work”, lançado em 1948, durante uma onda de nostalgia popular.
Julia Prinsep Stephen, sobrinha de Cameron, escreveu sua biografia, publicada na primeira edição do Dictionary of National Biography, em 1886. Stephen era, além do assunto favorito da fotógrafa, sua sobrinha e mãe de Virginia Woolf.
Atualmente, o museu e galeria de fotografia Dimbola Lodge é a sede da Fundação Julia Margaret Cameron.


The Day Spring, My Grandchild aged two years and three months, 1865