sábado, 29 de dezembro de 2012

Lua

Lua imagem nua
Riqueza de prata
Nudez só sua
Claridade refrata
Suspensa no ar
Em camada fina
Semblante dum par
Colírio de retina
Fomento de espaço
Orientação contínua
Alivia mormaço
Suave nas fases
Insinua...
A crescente beleza
No minguar de sonhos
Cheia como alteza
Novamente...
Ainda somos risonhos!

Ângelo Lima

domingo, 23 de dezembro de 2012

Jornalismo Cultural - Daniel Piza


Aqui vai algumas anotações sobre o livro Jornalismo Cultural de Daniel Piza. Cada capítulo está analisado aqui. Apesar de ter muitos trechos do livro, não se pode dispensar essa leitura maravilhosa e importantíssima para estudantes de Jornalismo e para quem gosta de escrever sobre. 
Utilizo muito a abreviação que fiz (não sei se já existe). JC = Jornalismo Cultural e não Jornal do Commercio


Sinopse

Este livro descreve a fascinante trajetória do jornalismo cultural e dá orientações preciosas a quem se dispuser a produzi-lo. Embora seja muitas vezes relegado a segundo plano pelos veículos de comunicação - costuma ser uma das primeiras vítimas de cortes de pessoal e reduções de custos -, o jornalismo cultural continua entre os preferidos do público e ganha cada vez mais status entre os jovens que pretendem seguir a profissão. Praticá-lo, no entanto, é muito mais do que emitir opiniões sobre filmes, livros, peças de teatro e novelas. É um exercício constante de aprimoramento e busca pela informação.
Primeiro capítulo: Daniel Piza mostra a história de como surgiu o jornalismo cultural e fala, em ordem cronológica, da Inglaterra, EUA e Brasil e seus principais nomes e personalidades (escritores e jornalistas) e grandes jornais que fizeram parte dessa corrente de Jornalismo Cultural. Neste capítulo ele diferencia o Jornalismo Cultural e Jornalismo Literário* dizendo que este não faz jornalismo sobre literatura, mas tem recursos de literatura (descrições detalhadas, muitos diálogos e etc.).

Segundo Capítulo: O negativo do JC se encontra neste capítulo. Aqui o autor fala sobre Indústria Cultural, cultura, elitismo (qualidade) e populismo. Deixa claro que o "filtro jornalístico tem falhado em método e eficácia". E ainda faz um apelo na página 48: "Há indivíduos que só leem romance policial, os que só ouvem jazz, os que só querem saber de cinema 'de arte', os que só gostam de livros de autoajuda. Não resta dúvida de que esses critérios é nocivo, pois limita e vicia a sensibilidade". Aponta que o jornal impresso (no Brasil) se limita em cinema americano, TV brasileira e música pop. 
Três partes deste capítulo que merece ser lido:
  • "Um cidadão mais consciente de suas escolhas, simultaneamente mais crítico e mais tolerante, é um cidadão melhor - que erra do mesmo jeito, mas tem mais chance de corrigir o erro ou ao menos de saber por que errou".
  • "Ser culto é pertencer a todos os tempos e lugares, sem deixar de pertencer a seu tempo e lugar. O JC deve se nutrir disso".
  • "O padrão das colunas caiu em parte porque foram entregues a 'personalidades' que se destacaram mais por seu nome que por seu texto".

Terceiro capítulo: Entre muitas coisas interessantes nesse capítulo vou citar apenas o que compreendi ser mais importante.
Quando o autor no tópico "Adendo: colunas de opinião" fala sobre o colunista inglês, historiador conservador Paul Johnson que escreveu que um bom colunista deve ter cinco atributos: 
1. sabedoria (viagens, vivência social, conhecimentos gerais)
2. leitura (sem ser livresco ou professoral, mas sempre atento às ideais)
3. senso de notícias (recomendando três de quatro colunas dedicadas a um assunto em voga)
4. variedade (não ficar num só tema, especialmente se for político ou econômico)
5. personalidade (a primeira pessoa é imprescindível - "Uma coluna impessoal é uma contradição e termos, como um diário discreto" -, mas o tema constante não deve ser o autor, ou suas relações pessoais).

No tópico seguinte, "reportar é saber", Piza diz que no JC existe espaço para a reportagem noticiosa assim como acontece em "hard news". "O jornalista pode revelar uma ação entre amigos numa premiação ou o calor de um novo contrato de algum famoso. Pode denunciar uma falcatrua na política cultural, ou adiantar o nome do novo secretário ou ministro do setor, ou demonstrar como os recursos públicos não estão chegando aos produtores culturais. Ou pode mapear os problemas dos museus da cidade, as dificuldades técnicas e financeiras de produzir um disco de qualidade no Brasil etc. Ou ainda antecipar inéditos de um grande escritor ou revelar que ele, digamos, colaborou com algum regime autoritário".

Quando digo que Daniel Piza é generoso, não falo nenhuma mentira. Dicas sempre são bem-vindas, e ele faz isso muito bem no tópico "Dez dicas". Lá vão elas:
1. Não "compre" nenhuma versão. Duvide sempre do que ouve e faça contraste com outros -pomos- pontos de vista. Não tenha medo de perguntar o que quer que seja a quem quer que seja.
2. Faça abertura de texto atraente, sem demorar demais a introduzir o leitor no ponto central da matéria.
3. Mantenha ritmo no texto, amarrando uma informação na outra, para não perder a leitura. Agilidade é indispensável, sem prejuízo do teor informativo. Textos ralos ou que simplesmente empilham os dados são os mais tediosos. Examine a possibilidade de cortar cada palavra.
4. Hierarquize as informações. Escolha as falas e os fatos mais importantes: nem tudo que se apura tem interesse para o leitor. Cuidado com os advérbios. É melhor dizer "nos últimos 15 meses" do que "ultimamente". Quanto pior a precisão, melhor. E o tamanho do parágrafo é determinado pela necessidade de completar uma informação ou argumento, não por um número de linhas imposto de fora.
5. Evite clichê: chavões ("separar o joio do trigo", "procurar uma agulha no palheiro"), adjetivos gastos ("cena intrigante", "final comovente"), termos pomposos ("deficiente visual" é "cego)". use trocadilhos com parcimônia. Seja coloquial e fluente, sem ser banal e previsível.
6. Preocupe-se em dar título, em propor a foto, em fazer legendas, chapéus e olhos, em interagir com a diagramação. Esses recursos dão cara e cor ao texto e é fundamental que tenham coerência entre si. Nada mais chato para o leitor do que uma produção visual que promete uma matéria que não é aquela e vice-versa.
7. Não abuse dos verbos "discendi", como "diz", "afirma" etc. Muitas vezes o autor fala já está subentendido e a interrupção das aspas só atrapalha. Também não é preciso ficar alterando o verbo, apenas para não repeti-lo: dê preferência ao "diz". E verbos como "ironiza", "alfineta" etc só são úteis quando a fala do entrevistado não deixou claro se ele está ironizando ou alfinetando.
8. Traduza sempre que possível o jargão do setor. Um título como "Solos revitalizam investigação coreográfica" (de uma crítica de dança da iFolha de S.Pauloi em 2003) ou "Fulano plastifica o vazio" (de uma crítica de artes visuais de iO Estado de S.Pauloi em 2001) afastam tanto o não especialista como o especialista no assunto. Mostrar familiaridade com o assunto é saberexpô-lo de forma clara. Citações devem ser usadas quando é realmente notáveis, não como argumento de "autoridade". E modere o "nomedropping", as longas sequências de nomes ou títulos.
9. Seja criativo no texto e na edição. Manuais de redação são apenas para orientação e padronização. Nenhuma "objetividade jornalística" implica não usar metáforas, riqueza verbal, humor. Ou esquecer a importãncia da pontuação; o ponto e vírgula, por exemplo, parece ter desaparecido dos jornais e revistas. E nada mais desencorajador do que um título como "Novo livro de Lygia Fagundes Telles chega hoje às livrarias".
10. Dê um fecho ao texto.

Quarto capítulo: Este último capítulo é para ter orgulho do Jornalismo Cultural. Daniel Piza fala sobre seu trabalho quando o jornal chegou no auge em JC. Conta sobre uma reportagem que teve uma ótima repercussão sobre o Parque Nacional de Serra da Capivara (PI).
"Acreditamos no prazer do texto e fomos reconhecidos por isso" sobre o caderno Fim de Semana.
O autor diz que para ser um bom jornalista cultural é preciso ser "inteligente sem ser chato, agradável sem ser frívolo, provocante sem ser antipático" e tratando o leitor com respeito, não bajular e não chocar.
Fala sobre a importância do Jornalismo Cultural e também de suas divergências. 

Daniel Piza morreu em 2011 de AVC aos 41 anos de idade. Escreveu 17 livros e era colunista do  jornal O Estado de S.Paulo. Deixou mulher e três filhos.

Apesar de ser um ótimo livro, até porque o Daniel Piza tem uma escrita que agrada a qualquer leitor (talvez por ter sido jornalista), o livro é cheio de erros de edição. Parece até que não deu tempo de ser revisado. O que eu acho um desrespeito ao autor e ao leitor. Mas felizmente não impede a leitura. Os erros não são tão gritantes a ponto do leitor desistir da leitura. Acho que graças ao Daniel isso foi possível. E que D. o tenha!

Não fique satisfeito só com o que escrevi do livro aqui. Compre o livro e leia que será muito mais proveitoso.

*Leia também: Jornalismo Literário - Felipe Pena

segunda-feira, 3 de dezembro de 2012

O Mistério de Sittaford - Agatha Christie

O Mistério Sittaford é um romance policial escrito por Agatha Christie e publicado em 1931.

Sinopse

Na remota localidade de Sittaford, prestes a ser assolada por uma poderosa tempestade de neve, um grupo de vizinhos reunidos na imponente mansão que dá nome ao lugar resolve se entregar a um passatempo excitante e aparentemente inofensivo: uma sessão espírita improvisada. O que deveria ser uma distração sem maiores consequências assume tons sombrios quando a mesa dos espíritos soletra o nome de um conhecido de todos os presentes, seguido da palavra “assassinado”. Trote de mau gosto ou um aviso sobrenatural? Em mais um de seus engenhosos romances, Agatha Christie surpreende os leitores com a narrativa misteriosa de um crime que teoricamente não poderia ser cometido.



Enredo
Sittaford House é uma mansão localizada em um pequeno vilarejo da campanha inglesa. O dono da casa, Joseph Trevelyan, não resistiu à oferta de alugá-la durante o inverno para as senhoras Willett e Violet Willett, mãe e filha, e se mudou provisoriamente para a cidadezinha mais próxima. Ao redor da mansão existem seis casas menores, construídas e vendidas ou alugadas pelo Sr. Trevelyan.

As novas moradoras da mansão querem estabelecer boas relações com os vizinhos e convidam-nos frequentemente para tomar chá e jogar nas frias tardes do inverno inglês. Numa tarde, decidem jogar o jogo do copo, onde o objetivo é comunicar-se com os espíritos. Durante o jogo recebem a mensagem de que o Sr. Trevelyan foi assassinado naquele momento.

O seu melhor amigo, que mora numa das casas e participava do jogo, sai no meio de uma nevasca para saber se realmente acontecera algo com Trevelyan, chegando na cidadezinha, descobre que era verdade: seu amigo foi assassinado misteriosamente.

É, assim, acusado o sobrinho do Sr. Trevelyan, mas a sua namorada, Emily Trefusis, em associação com um jornalista, Charles Enderby, não se dá paz. Vai para o vilarejo de Sittaford investigar a situação para provar a inocência do seu amado.

[...]

sábado, 24 de novembro de 2012

Julia Margaret Cameron

Retrato da fotógrafa Julia Margaret Cameron, 1862

A rainha Vitória teve reinado de 1837 a 1901. Período que ficou conhecido como a “Era Vitoriana”, tempos de prosperidade econômica, política e cultural. Na fotografia, surgiu: Julia Margaret Cameron (1815-1879).
Nasceu em Calcutá, de pai inglês e mãe francesa. Foi educada na França, voltou à Índia, conheceu seu marido e lá residiu até se mudar para a Inglaterra em 1848. Começou a fotografar em 1864, aos 48 anos de idade, ao ser presenteada por sua filha com uma câmera para amenizar a solidão. Entre as irmãs, ela era considerada o “patinho feio” — mais tarde, Virgina Woolf a definiria como a talentosa dentre as três irmãs, no prefácio de sua primeira coleção de fotografias, publicada pela Hogarth Press em 1926.
Cameron fotografava por prazer e deixou uma marca siginificativa para a história da fotografia. Sua obra é tão especial, que fotógrafos de todas as idades e do mundo inteiro ainda buscam inspirações em seu prazer mais belo. Sua estética mescla subjetividade, teatralidade e uma luz bem peculiar. Uma das características mais marcantes das fotografias de Cameron são os “olhares” que os fotografados carregam.

A morte do Rei Arthur, 1975
Transformou em estúdio o celeiro de Dimbola Lodge, seu lar na Ilha de Wight, e passou a retratar desde crianças, familiares e amigos até celebridades vitorianas, dentre as quais Charles Darwin, o poeta laureado e vizinho Alfred Lord Tennyson, os pintores John Everett Millais e George Frederick Watts, e o astrônomo John Herschel. Herschel, figura fundamental no desenvolvimento da invenção da fotografia, nutriu uma amizade de mais de 30 anos com Cameron, que a ele atribui parte de seu aprendizado: “meu grande professor nesta arte, que comigo correspondeu enquanto estava na Índia e me enviava todos os espécimes do avanço da ciência”. O manuscrito foi registrado pela fotógrafa em um dos 4 retratos que fez de Herschel.
Cameron fez parte da comunidade artística local, Freshwater Circle, e recebia seus amigos frequentemente, por vezes aproveitando-se de suas presenças para retratá-los. O Freshwater Circle é assunto cômico em “Freshwater“, única peça escrita por Virginia Woolf, sobrinha-neta de Cameron.
Mary Hillier, funcionária doméstica de Dimbola Lodge, foi, segundo a fotógrafa, “uma das  mais bonitas e constantes de minhas modelos. Em todo tipo de forma seu rosto foi reproduzido e, ainda assim, nunca senti findada a graça de sua moda. (…) os atributos de sua personalidade e complexidade de sua mente são as maravilhas daqueles cujas vidas se fundiam às nossas como amigos íntimos da casa”.

"I Wait", 1872

Sua obra é bastante singular em estilo e assunto, e é essencialmente composta de retratos de rosto e alegorias de cenas religiosas ou literárias. Cameron utilizava acessórios, indumentária de época e tecidos em seus cenários, criando uma aura onírica e remetendo a tempos passados e ficções fantásticas. Seus modelos eram normalmente obrigados a posar por horas, não só por conta do processo de colódio úmido utilizado, mas também pelas exigências da fotógrafa. Estava interessada em dar a conhecer sua beleza natural, pedindo aos modelos femininos que deixassem os cabelos soltos para mostrá-los de uma maneira que não estiveram acostumados a se apresentar. Embora a suas fotografias faltasse a agudeza que outros fotógrafos aspiravam naquele tempo, a estes sucedeu divulgar a aura emocional e espiritual dos modelos de Cameron.

The Gardeners Daughter 1867
Seu trabalho foi a maneira que encontrou de protestar contra a Reforma Religiosa. Ao observar suas imagens, principalmente as femininas, encontram-se traços de figuras divinas: suas modelos são quase sempre retratadas com o rosto virado, com a cabeça coberta de panos; algumas, até com asas. O foco suave e a experimentação na composição, os tons escuros e a iluminação simples são algumas das características de seu trabalho. Muitos críticos comparam suas fotografias a pinturas a óleo, o que foi precisamente a intenção de Cameron nas imagens que produziu para ilustrar os doze volumes de “Os Idílios do Rei”, a convite de Tennyson, autor da obra. J.M. Cameron realizava as mesmas características das pinturas que as inspiravam. O individualismo, a expressão dramática e o subjetivismo são as marcas principais de seu portfólio. 
Sua estética veio de um erro, como ela mesma afirmou em um de seus escritos. Sua primeira câmera só permitia um ponto de foco, desfocando os demais; como o retratado tinha de ficar posando por volta de sete minutos, qualquer movimento ajudava a criar mais desfoque. Logo Cameron percebeu o valor artístico deste erro, mantendo-o, mesmo adquirindo seus próximos equipamentos.

Charles Darwin, 1969
Suas fotografias passaram muito tempo esquecidas, até que foram recuperadas por Alfred Stieglitz.
Sua obra caiu na graça do público após ter sido resgatada pelo historiador Helmut Gernsheim, no livro “Julia Margaret Cameron: Her Life and Photographic Work”, lançado em 1948, durante uma onda de nostalgia popular.
Julia Prinsep Stephen, sobrinha de Cameron, escreveu sua biografia, publicada na primeira edição do Dictionary of National Biography, em 1886. Stephen era, além do assunto favorito da fotógrafa, sua sobrinha e mãe de Virginia Woolf.
Atualmente, o museu e galeria de fotografia Dimbola Lodge é a sede da Fundação Julia Margaret Cameron.


The Day Spring, My Grandchild aged two years and three months, 1865

quarta-feira, 10 de outubro de 2012

Centenário de Nelson Rodrigues em exposição na Torre Malakoff

Em comemoração do centenário de Nelson Rodrigues, a Torre Malakoff sedia a Ocupação Nelson Rodrigues. A exposição reúne um grande acervo de jornais, pôsteres, entrevistas sonoras, visuais e impressas, revistas e informações sobre o escritor que poucos conhecem. De um lado, a parte do Nelson jornalista, a outra, a parte Nelson família, dramaturgo e escritor.

Nelson Rodrigues nasceu em Recife em 1912. Aos 4 anos de idade mudou-se para a cidade do Rio de Janeiro. Foi o quinto filho dos 14 do casal Maria Esther Falcão Rodrigues e Mario Leite Rodrigues, como indica a árvore genealógica exposta na mesa na Torre Malakoff. Escreveu romances, contos, crônicas, peças e novelas de TV.
Como jornalista, trabalhou no jornal A Manhã (propriedade de seu pai), foi repórter policial aos 13 anos, seguindo a carreira da maioria de seus irmãos. Nelson, ajudado pelo seu irmão Mário Filho, que era amigo de Roberto Marinho, começou a trabalhar no jornal O Globo mas sem salário. Seu maior sucesso jornalístico é quando começa a escrever as crônicas de A vida como ela é em Última Hora nos anos 50. No esporte, ele era apaixonado pelo Fluminense e começou a escrever crônicas esportivas em 1962 com 50 anos.
O escritor descobre que é tuberculoso, seu tratamento é custeado por Marinho. Depois de recuperado, assume a seção cultural de O Globo, fazendo críticas de ópera. Em 1945 abandona O Globo e passa a trabalhar nos Diários Associados. Começa a escrever seu primeiro folhetim Meu destino é pecar, assinado pelo pseudônimo de “Susana Flag”. O sucesso do folhetim alavancou as vendas de O Jornal e o estimula a escrever uma terceira peça, Álbum de família, que foi censurada e publicada apenas em 1965.
O “anjo pornográfico”, como se dizia Nelson, fala como começou a gostar de dramaturgia em um de seus relatos expostos na Torre Malakoff em Recife: “Na verdade, sempre achei de um tédio sufocante qualquer texto teatral. Só depois de Vestido de Noiva é que tratei de me iniciar em alguns dramaturgos obrigatórios, inclusive Shakespeare.” Vestido de Noiva foi o grande sucesso de Nelson Rodrigues, uma renovação no teatro brasileiro. A partir daí ele se transforma em um grande representante da literatura teatral de seu tempo. Muitas vezes, suas peças eram vistas como obscenas e imorais.
Nos anos 70 a saúde de Nelson Rodrigues começa a decair. O período coincide com os anos de regime militar que o escritor sempre apoiou. Foi neste mesmo período, que acontece o fim do casamento com Elza, e Nelson veio a se casar duas vezes com Lúcia Cruz e Helena Maria. Nelson Falcão Rodrigues falece num domingo de manhã no ano de 1980 aos 68 anos de idade. Foi enterrado em Botafogo no cemitério de São João Batista.
Em suas obras, Nelson era  realista e também criticava a sociedade,  principalmente o casamento: “Mais tarde, eu saberia que trair um amor é uma impossibilidade. Mesmo com outra mulher, é o ser amado que estamos possuindo”. Foi um dos maiores observadores da sociedade, e também da mulher: “Era preciso que alguém fosse, de mulher em mulher, anunciando: - ‘Ser bonita não interessa. Seja interessante’”. Em O Primo Basílio, o escritor expõe seu erotismo realista e conquista o público.
Nelson Rodrigues escreveu 17 peças teatrais. Elas estão agrupadas em 3 grupos: peças psicológicas, peças míticas e tragédias cariocas. Algumas novelas da TV Globo foram baseadas na obra do autor. Também 24 filmes foram baseados em suas obras.
Aos 4 anos de idade, Nelson já se revelava um escritor polêmico num concurso de redação, ele escreve uma história de adultério. Foi neste mesmo período que a vizinha de Nelson o vê aos beijos com sua filha de 3 anos de idade, com ele sobre ela. Meio tarado não?
Nelson foi um grande escritor, dramaturgo, cronista e jornalista. Este pernambucano mais carioca do Brasil, está imortalizado na literatura brasileira. A exposição vai até o dia 21 de outubro na Torre Malakoff, Bairro do Recife. A exibição mostra cadeiras com tablets com imagens de entrevistas de Nelson, fotos. Há também móveis antigos e máquinas datilográficas para voltar à época de Nelson. As frases do escritor estão em todos os lugares, no chão, nas paredes, e projetores que exibia também imagens.

terça-feira, 2 de outubro de 2012

Histórias Medonhas d'O Recife Assombrado

A notícia é antiga mas ignorem! Eu fui num lançamento de um livro d'O Recife Assombrado. Quem não sabe acesse o site (http://orecifeassombrado.com). Lá você poderá ler alguns contos, histórias de terror e ver algumas boas ilustrações.
Lembro que cheguei beeeeem atrasada pro lançamento, quase que não entrei por causa disso. Sentei ao lado de uma amiga que já tinha pego uma senha, que serviria para sorteio de um livro. Me lamentei de não ter chegado antes e ter pego. Até comentei: "Poxa, queria tanto ganhar esse livro". 
Quando acabou as histórias de terror, já estava na hora de acabar, perguntaram quem ainda não tinha pego a senha, e logo levantei a mão. Peguei a senha e sem muitas esperanças eu fui uma das sorteadas e ainda ganhei assinatura de um dos autores.
Me ignore nesta foto
 Vale muito a pena ler os relatos e as histórias medonhas. Algumas realmente são divertidas, mas a maioria é de se arrepiar. 
Eu tentava sempre ler em um lugar com pessoas, num dia bem ensolarado, ou mesmo no ônibus. Mas não tinha jeito, eu me arrepiava de medo. Não adianta se esconder no meio da multidão. À noite você lembra da história e é capaz de sonhar com ela.
Algumas são relatos de recifenses. Não tem como ficar com medo. Ainda mais nós que somos recifenses nos identificamos e deparamos com lugares que frequentamos. Só de passar por perto dá medo.
Se você gosta desse tipo de leitura não sabe o que está perdendo.


Me desculpem os que leem o meu blog. Soube que tem gente que lê mas não comenta, até porque eu vejo a quantidade de views aqui.
Não tou numa fase muito boa, mas um dos meus objetivos é manter o blog atualizado. Vou tentar postar uma vez por semana pelo menos.
Por falar em notícia antiga, eu tenho uma nova: sabe o óculos que aparece na foto em cima? Eu perdi ele no fim de semana. Espero comprar uma armação mais bonita pra mim. Do jeito que eu tou não dá pra ficar pior! Ou dá?

quarta-feira, 12 de setembro de 2012

Charles Bukowski e Numa Fria



Há tempos já que me falavam sobre o tal Heirinch Karl Bukowski, mais conhecido como Charles Bukowski. Eu não sou do tipo que leio livro por indicação dos outros. Às vezes é porque eu já conheço o autor ou porque eu li um pouco na livraria. Claro que eu sempre leio resenhas dos livros e até mesmo no youtube e etc, mas nunca decido em ir lá, comprar e ler. Eu por acaso ia passando pela Rua do Lazer (é o lugar onde você gasta dinheiro com artesanato, livro e revista. Às vezes até fruta! Mas é mais conhecida pela quantidade de alternativas para lanchar), e, de repente me deparo com o nome "Bukowski" e uma capa bem simpática (vai entender meu gosto). - Por quanto tá moço? - Oito reais. Pensei: "Só isso?! Vou comprar!". "Só isso" entre aspas porque estava usado. Mas na hora em nem pensei nisso (acostumada com livros caros).

Se for cerveja preta eu quero hein?

A fama de um escritor excelente não está errada. Bukowski é do tipo que não mede palavras. Dei uma lida agora sobre o tal no grande Wikipédia e realmente foi o que eu achei quando eu li "Numa Fria". Eu sou um pouco suspeita justamente por só ter lido essa obra que é um conjunto de contos.

"Numa Fria" reúne 36 contos pequenos (e espero não estar errando no número), e que basicamente fala de relações conturbadas entre marido e mulher, relações extra-conjugais, jogo de cavalo, música clássica, bebida, erotismo e promiscuidade. Além de um pouco de violência. 

Como já falei o autor não mede palavras, faz uso do coloquialismo, gírias, palavrões. Tudo que nos rodeia, ou que pelo menos rodeou o mundo dele nos becos dos EUA, estava lá muito bem gravado e caracterizado nos personagens, nas observações e ações. 

Safadinho nada hein? Cara de malicioso!

A gente vê [um pouco] de personagens infantis, vagabundas, promíscuas, boêmias, chatas, enfim. Era tudo a realidade em que ele viveu por muitos anos nos EUA. Ele era alemão, mas foi bem cedo se virar na América e teve de tudo que era profissão. Chegou a estudar jornalismo, mas nunca se formou. Teve problemas com alcoolismo, com o pai e com sua aparência. Dizem que ele é o Henry Chinaski em suas obras (parecidíssimo com seu nome não?). E se não for demais, seus personagens eram reais. Até porque ele repete seus personagens em outras obras.

Na obra, a gente vê personagem que é escritor, que procura publicar seus livros e vive de recitais de poemas bem polêmicos. Na verdade, Bukowski estava se descrevendo em seus personagens.


Ler Bukowski é estar bem pertinho dos guetos, dos becos, talvez da favela se tratando do Brasil, rs. Se você acha que se incomoda com palavrões, gírias, sexo, palavras feias, gente fedendo, gente alcoolizada, promíscua, pobre enfim.... não leia! Ou pela menos leia pra perder o preconceito.

Se Bukowski descreve sua vida também em "Numa Fria", a gente já sabe que a vida dele não foi nada fácil.
"Quem já leu Bukowski, está preparado pra ler de tudo" disse eu à uma colega um dia desses. Ela concordou! 
"Numa Fria" não é o livro mais conhecido. Na minha opinião "Pulp" e "Misto Quente" são as obras mais famosas. E ao contrário de "Numa Fria", os dois são romances. Mas ele tem uma vasta lista de obras, é só dar uma pesquisada.
O autor morreu aos 73 anos em 1994. Nas fontes em que pesquisei, um diz que ele morreu de pneumonia e o outro diz que foi de leucemia. Em seu túmulo tem escrito "Don't Try" então nem tente viu?!! (????)

segunda-feira, 20 de agosto de 2012

O verdadeiro Che Guevara - Humberto Fontova

Bom, eu terminei de ler no mês passado este livro de Humberto Fontova onde ele fala a verdade sobre o mito Che Guevara que muitas vezes foi comparado ao Jesus Cristo. 
Este livro é indicado às pessoas que querem saber sobre o Che Guevara e como começou as revoluções cubanas. Neste livro você encontra o relato do próprio autor sobre a situação na época, e relatos de revolucionários e cubanos que viram de perto o que o Che Guevara fez em Cuba. 


Neste livro não só fala do esquerdismo e etc, mas também da personalidade de Guevara. Fala como Che Guevara foi capturado (o verdadeiro relato, e não àquele que os esquerdistas se orgulham). E também tem fragmentos dos jornais na época, jornais americanos. Também fala sobre os preconceitos de Che Guevara: cubanos, negros, homossexuais, roqueiros. Che Guevara não só matou e torturou homens, como crianças, mulheres (inclusive grávidas).
O autor também fala de Fidel Castro e como está Cuba hoje nas mãos do Raul Castro. É aterrorizante e cômico, de certa forma. Tem um ar de humor negro este livro. 
Ele ainda fala de alguns famosos que vestem a camisa do Che Guevara. Alguns vão até à Cuba e falam muito bem de Cuba pelo seguinte fato: Cuba está dividido por cubanos e estrangeiros, Cuba tem praia pra estrangeiro, hospital pra estrangeiro, lojas e blábláblá! Os famosos são vigiados em Cuba em seus próprios quartos de hotel! Ou seja, o estrangeiro ou famoso que vai à Cuba, não conhece a verdadeira realidade do povo cubano! Então não se iluda falando que Cuba tem o melhor hospital porque não tem!




Felizmente, não vou me atrever a falar ou fazer uma resenha deste livro. Tem muitas questões e acontecimentos que eu não saberia falar muito bem.
Mesmo eu tendo o livro em mãos, eu tiraria muita coisa dele pra que você pudesse entender. Mas eu não tou com muita paciência de reler algumas coisas pra registrar aqui.
Então eu vou deixar aqui o link de uma resenha muito boa do Mídia Mais, que resume bem o que tem no livro. Considerando que o livro é repleto de fatos, acontecimentos que não se dá pra enumerar em um único post.
Aqui vai também um documentário "O verdadeiro Che Guevara - Anatomia de um Mito" (eu não assisti ainda, mas parece ser bom).

sexta-feira, 6 de julho de 2012

Sidarta

Se você não quiser ler o livro por falta de tempo, leia primeiro aqui no Wikipédia, uma síntese de cada capítulo e você verá que é muito válido ler este livro.

Sidarta é um romance escrito por Hermann Hesse. A sua primeira publicação foi em 1922 e conta passagem da sua vida e pensamento durante a sua estadia na Índia em 1910, inspirado na tradição contada de Siddhartha Gautama, o Buda. O livro trata basicamente a busca pela plenitude espiritual, e o alcance de estados em que a mente humana se encontra absolutamente completa e plena.
 


Sidarta é um jovem filho de brâmane, que tem como amigo Govinda. Sidarta é admirado por todos ao seu redor, mas carrega consigo pensamentos inquietantes. São questionamentos que o deixa desconfortável, ele questiona até mesmo sobre o divino, sobre sua existência. Onde habita a verdade?

Seu pai o pediu para encontrar com os samanas, e com eles, Sidarta deu suas roupas a um brâmane ficando apenas com a tanga e manta parda, passou 15 dias de jejum fazendo apenas uma única refeição por dia e deixava de comer alimentos cozidos. Por este longo período, Sidarta observou o comportamento de diferentes pessoas e profissionais. Cada vez mais, Sidarta via falsidade, para ele, a vida era um tormento. Seu objetivo era tornar-se vazio, "vazio de sede, vazio de desejos, vazio de sonhos, vazio de alegria e de pesar.". "Os samanas ensinavam muita coisa a Sidarta e ele aprendia numerosos métodos de separar-se do eu." Sidarta confessa ao Govinda que aprenderia a arte da meditação mais depressa e com menos esforço sem os samanas. E depois questiona: "O que é a meditação? O que, o abandono do corpo? Que significa o jejum? E a suspensão do fôlego?". E ele mesmo responde "São modos de fugirmos de nós mesmos. São momentos durante os quais o homem escapa à tortura de seu eu. Fazem-nos esquecer, o sofrimento e a insensatez da vida." 

Sidarta questiona até o mais idoso dos samanas, o mestre, dizendo que este com os seus 60 anos, nunca alcançou e nunca alcançará o Nirvana, e ninguém alcançará.

Posteriormente, Sidarta e seu amigo descobrem a chegada do Buda em uma cidade. Eles vão então até a cidade, e acham o Buda sem dificuldades, mesmo ele usando os trajes comuns de tantos monges que ali se reuniam. Govinda, que sempre foi a sombra do Sidarta, resolveu ir com os discípulos de Buda. Mesmo tomando essa decisão sozinho, Govinda esperava que Sidarta fosse com ele, mas não foi o que ocorreu e disse: "Govinda, meu caro, acabas de dar o passo e de escolher o caminho. Sempre fôste meu amigo, ó Govinda, sempre andaste um passo atrás de mim. Freqüentemente pensei: será que Govinda nunca dará um passo sozinho, sem mim, pela iniciativa da sua própria alma? Pois é, e agora te tornaste homem e tu mesmo deteminaste o teu destino. Oxalá consigas chegar ao fim da tua jornada, meu querido! Que encontres a salvação!". Depois disso, Sidarta teve um belo encontro com o Gotama (Buda), uma longa conversa de dois grandes sábios. Depois dessa conversa, Gotama pediu-lhe que refletisse melhor sobre sua doutrina, já que Sidarta encontrava falhas. Então Sidarta, que tanto gostou da presença dele e nunca teria sentido isso antes, refletiu um pouco mais, e nasce aí mais um capítulo: O Despertar. 

Até agora descrevi um pouco a primeira parte do livro de Hesse, que termina com "O Despertar", depois começa a segunda parte. Vale a pena ler o livro antes que eu descreva o restante.




Sidarta é uma leitura fascinante: quanto mais você lê, mais você quer ler. Sidarta é mais que um livro. É uma lição, é um despertar do ser, é uma reflexão a cada linha sobre a vida, sobre o mundo, sobre os desejos, anseios, prazeres. Se você ler, vai entender o que há além de tanta matéria, você vai entender a plenitude que é o desapego e busca pela paz.


Frases

"É verdade que um beberrão obtém o esquecimento. Certamente se lhe oferecem breves instantes de fuga e de sossego, mas sempre regressará do mundo da ilusão e tudo se lhe deparará como antes. Ele não se torna mais sisudo, não colhe conhecimentos, não sobe nenhum degrau."

"Tornei-me desconfiado com relação a ensinamentos e aprendizagens, que me cansei deles e que minha fé em palavras pronunciadas por professores diminuiu muito."

"O amor pode-se mendigar, comprar, receber de presente, mas nunca roubar pela força."

"Nada é obra dos demônios, já que não há demônios. Cada um pode ser feiticeiro. Todas as pessoas são capazes de alcançar os seus objetivos, desde que saibam pensar, esperar, jejuar."

sexta-feira, 15 de junho de 2012

Hermann Hesse

Hermann Hesse (1877-1962) nasceu na Alemanha e se naturalizou suíço em 1923. O autor foi um adversário declarado do nazismo, e se posiciona contra a ascensão dessa ditadura por meio de artigos publicados na época.

Em 1946, ganhou Prêmio Nobel de Literatura pelo livro "O jogo das contas de vidro".


Pequeno Mundo reúne 7 contos situadas entre 1850-1900. Hermann Hesse é um autor que nunca pensou em comercializar suas obras. Sua literatura reconstitui senso de humanidade, grandeza espiritual, do reerguimento do ser, dos significados éticos da vida.

Seus personagens são tímidos, indecisos, ingênuos, humildes. Nestes contos, Hesse concentra toda uma filosofia de vida, se pondo a serviço de aprimoramento social e individual.



O Regresso, por exemplo, conta a estória de um rapaz de uma cidade pequena que decidiu viajar com outros rapazes para se atualizar no mundo dos negócios já que seu pai era curtidor de peles. Mas seu pai viu-se sozinho e envelhecia e abandonara o negócio e se entregou a vida ociosa.

August, permaneceu viajando. Trinta anos se passaram, August casou com a filha de seu amigo. Não teve filhos e sua esposa morreu. Transtornado, August decide voltar a viajar e acaba voltando à sua cidade de origem. É quando ele vê a cidade e seu primo com ambição por ele ser rico. August era sempre chamado para festas, mas não era bem falado. A cidade era movida por fofocas. August finalmente compra uma casa e conhece sua vizinha (também viúva), que assim como ele, é alvo dos mexericos.

O conto se desenrola por sua paixão pela vizinha que cuida da cunhada doente mental e August se maravilha com o jardim bem cuidado. Percebendo seu amor por ela, August a pede em casamento...

Será que ela aceita? Seria bom ler!

Outras obras do autor
O Lobo da Estepe (já foi citado aqui no blog)

segunda-feira, 11 de junho de 2012

Filosofia

Ato de dar a razão das coisas ou pelo menos procurá-la, porque, enquanto nos limita-mos a ver e contar o que vemos, não saímos da história.

Foto Flickr Danielle