domingo, 28 de dezembro de 2014

O segredo dos efeitos sonoros se chama Foley


Você provavelmente já viu algum vídeo desses onde se usa o som das coisas para fazer música.

Na verdade tudo isso começou com as novelas na rádio que, para criar uma cena "real" na imaginação do ouvinte precisava-se dos efeitos sonoros. Hoje em dia, isto se usa muito no cinema e se chama “foley”.

Os efeitos sonoros que baixamos na internet para usar em algum vídeo ou vinheta veio de efeitos sonoros de objetos mais inusitados (ou até reais) que foram gravadas e adicionadas ao filme na pós-produção para melhorar a qualidade do áudio.

Os artistas do Foley são tão bons que ninguém imagina que aquele som não venha daquela imagem (como você pode ver no vídeo lá embaixo). Os artistas utilizam outros objetos para capturarem aquilo que você vê no filme ou vídeo.

Outro vídeo produzido pela GoPro que também utilizaram foley é o Why Play Basketball? 

Um filme interessante que retrata bem essa profissão é Céu de Lisboa (1994). O personagem Philip é técnico de som e viaja para Lisboa a pedido de seu amigo cineasta Fritz. Mas ao chegar lá, o amigo desapareceu. Enquanto isso, ele sai pela cidade capturando o som de tudo que lhe chama atenção. Outro filme em que você pode ver esse profissional é o Seabiscuit (2003) em um personagem interpretado por William Macy.

Outra referência muito boa sobre o uso do foley é o documentário Funky Monks produzido por Gavin Bowden onde apresenta a banda Red Hot Chili Peppers gravando muitas das faixas do álbum e outras faixas que foram lançadas anos depois.

O álbum produzido por Rick Rubin foi gravado numa mansão famosa e assombrada de Los Angeles, a "The Mansion", construída em 1918. Uma equipe foi contratada para montar um estúdio de gravação e outros equipamentos necessários.

Eles utilizaram vários objetos como canos e objetos de metal para fazer sons e utilizar isso nas músicas.

E, um vídeo que está nos extras do filme Phantom sobre como o compositor Jeff Rona compôs a trilha sonora usando um submarino (que é o cenário principal do longa). How Composer Jeff Rona Used a Submarine to Make Music for 'Phantom'


No vídeo abaixo você vai ver que até repolho foi usado para criar o som de um murro.

sexta-feira, 5 de dezembro de 2014

Entrevista: Cláudio Barreto sobre as décadas de 1960 e 70

Mais uma entrevista que fiz para uma matéria sobre nostalgia. Esta entrevista é com Cláudio Barreto Ferreira de 64 anos, servidor público federal que se interessa pelas décadas de 1960 e 70.
"na praia de Olinda, Bairro Novo, por volta de 1967, 1968, em que eu estava usando uma camiseta "Hyppie", com os dizeres: "Make love, not war", que era o principal lema contra a Guerra do Vietnã".
"Além da idade (pré-adolescência e adolescência), sem preocupações com trabalho, só fazia estudar, jogar futebol na rua (rua de areia, sem calçamento/asfalto com pouquíssimo movimento de carro; (a gente parava o jogo para deixar passar algum carro de tempos em tempos), brincar de vários tipos de brincadeiras, tais como: prendeu-soltou (pique ou pega-pega), carniça ou pula-sela, chupar manga trepado na mangueira, fazer balanço de corda nos galhos das mangueiras, pulando de cima do muro para alcançar e se pendurar na corda como se fosse Tarzã,
Brincar carnaval na rua, acompanhando troças carnavalescas, como a troça do boneco gigante "Seu Malaquias", jogar água da torneira do jardim (forte jato d'água) nos carros que passavam pela avenida, e à noite, dançar no salão de visitas de casa, ao som das músicas de Capiba, Nelson Ferreira, além de marchinhas de carnavais anteriores, tudo reproduzido numa vitrola ou toca-discos ou passa-disco ou eletrola, com discos de 78 RPM e LPs (long play).
Nessa época, quando se falava em ladrão tratava-se de ladrão de galinhas, que pulavam os muros dos quintais para roubá-las durante a madrugada.
Não havia televisão, e à noitinha, após o jantar, as pessoas se reuniam em frente de casa para conversar, brincar de roda, marré-marré, passar anel, boca-de-forno, e outras inofensivas.
No São João, sempre eram feitas fogueiras com galhos caídos das mangueiras e madeiras velhas de móveis etc. Sempre havia um dinheirinho para comprar alguns fogos de artifício mais baratos e fazer bolos de milho, canjica, pamonha, pé-de-moleque etc.
A turma se reunia para dançar quadrilha ou simplesmente forrozar até não aguentar mais de sono. As músicas também eram reproduzidas de LPs e discos de 78 RPM, em vitrolas automáticas ou não.
No Natal, sempre se recebia presente de Papai Noel, por mais simples que fosse, e se preparava uma ceia, mesmo sem muita sofisticação.
No período dos bailes de formatura, conseguia convites para participar em clubes como o Português, Náutico, Internacional ou Sport. Exigia-se traje formal, ou seja paletó e gravata. Então, muitas vezes era necessário algum amigo entrar primeiro e passar o paletó e a gravata pela cerca ou muro, fora das vistas dos porteiros para que os outros pudessem entrar no clube também, já que não era comum a gente possuir esse tipo de roupa.
Como eu havia recebido um terno para o casamento de minha irmã, estava livre dessas artimanhas. porém, como não tinha dinheiro, já que não trabalhava, só fazia dançar a noite toda, e quando sentia sede, pedia licença à garota com quem estava dançando e a conduzia para a mesa que ela estava ocupando com amigos(as) e/ou parentes, indo em seguida até o jardim do clube beber água na torneira (tempos felizes). 
Depois que foi comprado um aparelho de TV, acompanhei as apresentações dos programas de auditório da Jovem Guarda, que também marcou muito minha vida porque comecei a aprender a dançar (dança de salão de forma amadora, não profissional) por diletantismo".


uma Monark de 1965 [arquivo pessoal]

Como você descobriu o interesse por essas épocas?
Relembrando os momentos vividos naquele período, comparando com os anos posteriores.

Para você, o que mais caracterizou essas décadas?
A década de 60 foi caracterizada pelo movimento "hippie, guerra do Vietnã, assassinato do presidente dos Estados Unidos (John Kennedy), primeira viagem do homem à lua (1969), golpe de Estado no Brasil (1964), com implantação da ditadura militar, inauguração da primeira TV no Nordeste: TV Jornal do Commercio, canal 2 (1960).

O interesse por essas décadas te fez mudar alguma aspecto da sua vida? Alguma mudança no visual ou psicologicamente?
A década de 60 foi para mim, particularmente, a década de descobrimentos com a chegada da puberdade, começo das paqueras, preocupação com a maneira de me vestir, ou seja, procurava usar roupas da moda, como calças boca-de-sino, saint-tropez, camisas coloridas etc. comecei a experimentar cigarro para parecer adulto, mais velho, mais maduro, vício que foi se instalando e permaneceu durante uns vinte anos. Em meados de 1968 saí do Estado pela primeira vez para morar no Rio de Janeiro.
Perto de completar 18 anos, foi um fato muito marcante e que provocou em mim grandes mudanças psicológicas, pois foi também o período de incorporação ao Exército, onde servi durante pouco mais de onze meses e fiquei morando "de favor" na casa da família de um irmão mais velho.

foto tirada em 1963, no Parque 13 de Maio, numa exposição do Exército. [aquivo pessoal]
O que você mudaria mais para ficar mais perto dessa década?
Cheguei a um patamar da vida em que o passado é apenas para ser lembrado no intuito de se evitar cometer os mesmos erros, e manter ou repetir os acertos.
Quanto a mudar alguma coisa, já mudei ou evitei algumas mudanças, tais como: evito possuir telefone celular, não tenho carro (também não ando de "carona" ou "bigu" com outras pessoas), não frequento as salas de cinema atuais (muito ruins comparadas com as da década em questão).

Você ficou fascinado pela década porque ela condizia com a sua personalidade ou houve uma mudança após a descoberta da década?
Acredito que fui sendo levado pela onda, sem pensar a respeito, sem nenhum senso crítico, quase totalmente alienado pelos acontecimentos políticos, como a renúncia de Jânio Quadros da Presidência da República com a devida passagem do cargo para o vice-presidente João Goulart (Jango), afastado pelo golpe militar.
Penso que minha referência à década de 60 se deve principalmente pela minha idade na época. Idade de descobertas e de começo do sentimento de vida, de um pouco de independência não financeira, mas de locomoção e de escolhas diversas, além de uma liberdade permitida por meus pais e que procuro manter nos dias de hoje comigo mesmo.

Monóculo


Entrevista: A paixão pela década de 60