"O seu modo de vida pode ser universalizável? A forma como
você vive poderia ser boa para todas as pessoas? Todas as pessoas agem desse
jeito? A sociedade se manteria? Esse tipo de jogo que o Kant pedia era um jogo
de imaginação de imaginar que o absurdo de todo mundo seguia sua própria
máxima, se aquilo poderia valer pra todo mundo.
Eu acho que esse tipo de jogo
já está pressuposto, por exemplo, lá no Aristóteles quando ele fala no
desenvolvimento das virtudes. Ele pensa cada ser humano como uma planta que ela
tem que desenvolver todas as suas potencialidades. Só que existem plantas com
algumas diferenças, mas as condições para o desenvolvimento devem ser as
mesmas.
Uma filósafa Martha Nusshaum faz a parte da ideia de índice do
desenvolvimento humano do Amartya Sen da economia algo bem interessante. Não
basta distribuição de renda, você tem que dá condição pra que toda pessoa
desenvolva suas potencialidades. Não só condições de saúde, de educação, mas
também de participar do debate social, participar do jogo da razão de forma
pública. Numa ditadura você não conseguiria fazer isso. Mesmo numa democracia
você não consegue participar do jogo porque depende de qual empreiteira você é
dono [risos] de quantas vagas no Congresso você consegue comprar pra sua
casa... mas isso é outro detalhe. [...]
Todas as sociedades-nações foram
fundadas na leitura de certos livros: literatura... O fato de você compartilhar
uma língua geralmente era o que unia uma nação. Agora a gente chegou num ponto
que as pessoas não estão mais lendo nada. [...]
Talvez a vantagem da filosofia seja essa vantagem de
tentar... essa ilusão do universal faz com que muitas vezes essa filosofia
julgue o certo e o errado. Nossa tendência é sempre fazer esse tipo de
julgamento e a filosofia serve de justificativa pra esse tipo julgamento. E esse
julgamento já permite a ação. Por exemplo, um antropólogo vai trabalhar muito
descrevendo as coisas como são, um antropólogo vai sempre descrever as coisas e
não vai julgá-las. Por exemplo, um antropólogo pode ir no morro carioca e descrever
tudo o que tá acontecendo lá no funk e ver todos os aspectos... a função social
daquilo. Um filósofo vai sempre querer julgar se isso é bom, se isso é ruim.
Qual é a conseqüência daquele tipo de valor e vai ter juízos parciais, mas ele
vai querer fazer o julgamento."
Marcos Carvalho Lopes
no 1º podcast do Filosofia Pop
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