Estamos em 1832 e conhecemos nosso protagonista Manuel Canho - o gaúcho. Ele nos apresenta um personagem sério, determinado, simples, de postura reta e decidido à sua missão.
Sua missão é vingar a morte do pai. João Canho foi assassinado na frente do filho em 1820, quando o gaúcho tinha apenas 8 anos e tinha o maior orgulho do pai.
O gaúcho parte determinado a vingar a morte do pai e sai montado em seu cavalo Morzelo, personagem que por assim dizer, já vingou a morte do seu dono João Canho. No meio do caminho ele encontra a selvagem Morena. Mãe selvagem prisioneira à procura de seu poldrinho.
Muito interessante como os animais aqui são também personagens, e personagens muito presentes e importantes para o curso da estória. Animais com sentimentos humanos ou talvez sentimentos que ignoramos que os animais possam ter. Para mim, foi o que tornou este livro mais especial.
Temos, em meio a esta estória de vingança, uma estória de amor que foi se construindo aos poucos. Catita é uma personagem com vontade de amar, e desde o início declarou o seu interesse por Manuel. Porém Manuel não retribuiu, riu-se de sua paixão - ele só tinha olhos para a vingança. Mas posteriormente ele se encontra também apaixonado por ela. Algumas coisas acontecem para impedir essa paixão.
Não quero entrar em detalhes em relação a tudo que acontece. Mas é preciso dizer que temos muitas ações neste livro muito interessantes: ações, aventuras, dramas.
Nós estamos diante de costumes muito antigos, de paisagens limpas e puras, de personagens com valores agora muito distantes. O autor descreve muito bem a paisagem sulista, e muito bem as vestimentas. Vamos nos deparar com palavras talvez desconhecidas para alguns leitores como "coxilha", "piquete", entre outros.
É preciso dizer que há um contexto histórico muito importante neste livro. Como disse, conhecemos o protagonista em 1832 e neste ano já se discute sobre a revolução com o objetivo de instalar a República. Isso influencia os personagens e indiretamente Manuel, que começa a trabalhar para Lucas Fernandes (pai de Catita). Em 1835 começa a Guerra dos Farrapos.
Personagens muito bem construídos, eventos isolados muito importantes para a construção da estória, a humanização dos animais, a maternidade (relação de mãe e filho), ambientes e vestimentas muito bem descritos, discussão política e contexto histórico.
É um livro imperdível para nós brasileiros.
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José de Alencar nasce em 1829 no Ceará e morre no Rio de Janeiro em 1877 de tuberculose. Escreve O Gaúcho em 1870 e usa o pseudônimo "Sênio" a partir de então.
Alencar cursou Direito, foi deputado, redator-chefe de jornal, Ministro da Justiça. Escreveu críticas, peças de teatro, crônica, autobiografia e 19 romances. Seu apelido em casa era Cazuza.
Fotos da edição do livro de 1953.
Trechos do livro O Gaúcho.
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