Gaúcho na campanha, s/d José Lutzenberger (Alemanha 1882- Brasil 1951) aquarela sobre papel, 21 x 29 cm Museu Ado Malogoli, Porto Alegre. fonte da imagem |
"-Mamãe.
Palavra inata, que o espírito traz do céu, como traz a consciência de sua origem. Quando Deus encarna as almas, para semear a terra, imprime-lhes dois emblemas indeléveis: a consciência da divindade e a intuição da maternidade; o vento divino e o verbo humano".
"Desde o rugido do leãozinho até o imperceptível estalido da larva, todo o ente gerado diz - mãe.
Também o seio, dotado de faculdade conceptiva, nenhum há que não palpite íntima e profundamente ao eco daqueles sons. Parece que ele conserva a sensibilidade interno do contato com o filho que gerou; a dor, como a alegria, se comunica e transmite de um a outro por misteriosa repercussão."
"Não é só amor, paixão e culto, a maternidade; mas também e principalmente uma reprodução da existência. Renasce a mãe no filho, volve à puerícia para simultaneamente com ele, a par e passo, de novo percorrer a mocidade e a existência."
"Desde que nasce o filho, logo a mãe de novo o concebe, mas dentro d'alma: há aí um seio criador, como o útero; chama-se coração.
Dura esta gestação moral, não meses, porém anos; os estremecimentos íntimos e os repentinos sobressaltos se transmitem; há um cordão, invisível, que prende o coração-mãe ao coração-filho, e os põe em comunicação. A vida é uma só, repartida em dois seres."
"A alma que uma vez subtrai-se ao domínio de outra, reage com um impulso irresistível.
Não há pior déspota do que seja o cativo submisso, quando se revolta."
"O sol despontava.
A manhã límpida e serena esparziu a doce luz aquela terra convulsa. No meio dos sobejos da borrasca, entre as estilhas dos troncos seculares, as farpas de rochedo e o solo revolto, o tenro grêlo da semente rompia o seio da terra; e a flor azul de uma trepadeira estrelava suas pétalas aveludadas."
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