sábado, 31 de maio de 2014

Copiar, transformar e combinar



Everything is a Remix (Tudo é um Remix) é uma série de documentários divididos em quatro partes e dirigidos por Kirby Ferguson. Há um trabalho árduo de documentação e edição de vídeo que defende a tese de que tudo não passa de uma cópia. A originalidade para Kirby é uma ilusão. Defender os direitos autorais, então, é um bem inalcançável.

Kirby Ferguson é um diretor, editor, escritor e jornalista nova-iorquino. O criador de Everything is a Remix participou de palestras do TED e mantém o site www.kirbyferguson.com e o twitter @remixeverything. Em seu site, Kirby divulga o seu novo trabalho chamado This is not a Conspiracy Theory.

A primeira parte trata do remix, da cópia no universo da música. A banda que mais aparece nessa primeira parte de Tudo é um Remix é Led Zeppelin, que, segundo Kirby, “copiou sem fazer mudanças fundamentais”. O autor também traça diferenças entre covers (execução de material de outros) e imitações (cópias que ficam dentro dos limites legais) – exemplos de “remixagem lícita”. O grupo de Led Zeppelin foi de copiador para copiado e o autor traça, em todos os exemplos, uma série de materiais que deixa claro ao telespectador que a sua tese tem fundamento. Nessa parte o autor também defende o seu posicionamento mostrando o percentual de filmes. “Dos 10 filmes de maior sucesso de bilheteria dos últimos 10 anos, 74 em 100 são continuações, refilmagens ou adaptações de livros, histórias em quadrinhos, videogames e etc”, argumenta o documentário.


Como continuação da primeira parte, a segunda parte compara cenas de vários filmes de sucesso com filmes antigos, por exemplo. Além dos gêneros e subgêneros que foram se modificando ao longo dos anos. Star Wars é um dos filmes em que Ferguson se baseia para defender a sua tese de que “tudo é um remix”. Outro exemplo é o filme Kill Bill de Quentin Tarantino – os fãs sabem que a intenção do diretor é fazer homenagens usando as suas obras.

É na terceira parte que o nova-iorquino apresenta “Os Elementos da Criatividade”. O autor defende aqui que é possível criar algo novo através de uma transformação – “obtendo uma ideia e criando variações”. Mais uma vez o autor cita vários exemplos que compravam o que está defendendo – dessa vez invenções que foram pensadas semelhantes em uma mesma época. Kirby Ferguson ilustra elementos básicos da criatividade que são: copiar, transformar e combinar. É nesta parte também que o autor desconstrói o que o telespectador assistiu nas partes anteriores. Há coincidências tanto no mundo das invenções como no mundo das artes. Novamente o autor traz exemplos concretos que convence o seu argumento.

A quarta e última parte de Everything is a Remix, “Falha no Sistema” defende novamente os três elementos básicos (copiar, transformar e combinar), dessa vez o conjunto desses elementos significa evolução. Ele defende que os genes e a cultura se baseiam nesses três elementos. Ele defende que as idéias não são isoladas, arrumadinhas, mas devem ser vistas como um conjunto. É neste ponto do documentário que o autor vai falar dos direitos autorais, mercado, distribuição, propriedade intelectual e patente. Problemas de roubos de ideias, plágios e pirataria começam a ser discutidas. Kirby fala de empresas (que não produzem) e trabalham adquirindo uma “biblioteca de direitos de propriedade intelectual, depois entram em litígio para obter lucro”.

Atualmente há temas que discutem temas como compartilhamento de informações, conhecimentos e ensinamentos como bens do público. O conhecimento é essencial para o ser humano e, como o autor do documentário argumenta, vários fatores podem impedir novas transformações, inovações que podem melhorar e facilitar trabalhos que influenciam o intelecto. As leis dificultam o acesso à informação, ao conhecimento e à cultura. Temas como cultura livre, ética hacker e copyleft podem ajudar a propagar as combinações que o autor tanto defende – “copiar, transformar e combinar”. Não se justifica a banalização da pirataria, Lawrence Lessig, por exemplo, argumenta que a pirataria pode comprometer a distribuição do conhecimento (tornando as leis ainda mais rígidas). Ele defende que uma organização sem fins lucrativos (como o Creative Commons) podem facilitar o compartilhamento das informações sem prejudicar os artistas. Por divulgar e oferecer serviços, empresas ganham autoria de uma obra artística e o produto dessa obra se torna mais caro para o usuário.
Odiamos perder o que temos
Nem tão rígido como os direitos autorais e o copyright, mas nem tão liberal e radical como a pirataria. Nos tempos atuais, as empresas não são mais agentes de uma distribuição consumidora. A ideia é fazer com que a distância do produto entre o emissor e o receptor não seja tão grande que dificulte a sua comercialização – o artista não perde seu valor e o usuário não deixa de consumir bens culturais.

Em um primeiro momento, o documentário de Ferguson parece ser dispensável, já que não parece ser nenhuma novidade a temática discutida. Mas a reflexão é valiosa para entendermos de que são feitos os nossos bens culturais e artísticos. É óbvio que ninguém deixará de consumir Led Zeppelin, por exemplo. Nem deixar de ouvir “I Got a Woman” e nem deixar de apreciar Kill Bill e Star Wars. São obras que não perdem o seu valor. A reflexão que aparece no final do documentário é que é muito importante – a que ponto isso nos levou? É mesmo necessário empresas barrarem produções artísticas e lucrar com isso?



A repercussão desse documentário dominou a internet e os blogs de todo o mundo. No Brasil, vários blogs conhecidos divulgaram o trabalho de Kirby Ferguson. São blogs de várias temáticas: cultura, tecnologia, sites de compartilhamento de música e filmes. Várias instituições de ensino estão debatendo essa temática dentro de salas de aula e também em palestras. Com a repercussão do documentário, Kirby participa de várias palestras ao redor do mundo e é acessível através de seus contatos na internet.


“Criação requer influência”

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