sexta-feira, 17 de maio de 2013

Artigo de Opinião - Espiral do Silêncio, medo do isolamento e Facebook

Espiral do silêncio é uma teoria bem pensada da filósofa e socióloga alemã Elisabeth Noelle-Neumann para explicar o por quê de algumas pessoas permaneceram silenciosas por acharem que, expressando suas opiniões, fique isolado da sociedade, por achar que é minoria. Geralmente, esse receio faz sentido, já que, expressar sua opinião trará, provavelmente, o comportamento negativo das pessoas. Ou seja, o indivíduo se auto-censura, se priva de proporcionar uma outra reflexão sobre determinado assunto.


O contrário ocorre: uma pessoa percebe que sua opinião sobre algum assunto, se aproxima mais da opinião pública. A tendência dessa pessoa é tornar sua opinião visível. Dessa forma, sendo o seu objetivo ou não, expressar sua opinião pode lhe proporcionar uma certa “ascensão social” dentro de seu clico social, ou reconhecimento. Proporcionando auto-estima e talvez até orgulho.

Na mídia acontece algo assim: um noticiário “informa”, por exemplo, que “Israel ataca a Palestina”, quando na verdade Israel se defende da Palestina. Dar uma opinião contrária àquela mostrada pela mídia causa polêmicas, questionamentos, debates não muito saudáveis e discussões sem fim e muitas vezes sem nenhum fundamento. Como dizer a verdade ou dizer uma opinião contrária, se a profissão de jornalista deveria informar a verdade e se a população censura opiniões adversas?

Para que o indivíduo não seja isolado do seu grupo, ela se censura, é banida e renuncia expressar a sua própria opinião quando a sua opinião não faz parte da opinião da maioria. Por isso algumas pessoas se privam se curtir, compartilhar e comentar opiniões adversas da dominante. Mas quando a sua opinião faz parte da opinião pública, ela expressa sem medo do isolamento social. É assim que se configura a Teoria do Espiral do Silêncio.

Talvez a opinião que está com maior visibilidade, não seja a dominante. Entre dez, quatro pessoas são a favor, por exemplo, da redução da maioridade penal, e, expressam sua opinião entre amigos, familiares, redes sociais e enfim. Enquanto seis são contra e não expressam opinião por nenhum meio por medo de ser “censurado”.

Se um tem receio em expressar sua opinião por medo do isolamento, então, a sociedade tende a perder uma reflexão primordial, uma discussão, um debate saudável atingindo ambos os lados. Se nem sempre a opinião dominante é a mais certa, para sabermos disso, precisamos refletir, debater e não ocasionar medo ou simplesmente não ter medo de compartilhar posições diferentes.

No Facebook, acontece algo paradoxal. Os internautas são ativos para clicar no botão do mouse em “curtir” e “compartilhar”, algo que na vida real são passivos, que não faz parte da realidade deles, que não afeta eles e que não estão em pauta no cotidiano fora dessa rede social.

Todos compartilham e curtem o senso comum no Facebook, como amar os animais e odiar a corrupção, por exemplo. Inativos na vida real e ativos no mundo virtual. Mas quem vai de contra o senso comum, tem a tendência de ficar em silêncio. Talvez os verdadeiros ativistas tomam consciência que uma causa virou febre no Facebook e na realidade não se reflete da vida real. “Ninguém falava em cuidar de animais, agora todo mundo compartilha, curte, mas na vida real nada mudou”, dizem alguns.

Do ponto de vista da teoria do espiral do silêncio, o Facebook é um grande estudo – o coletivismo (a prática de curtir, compartilham e discutir), o isolamento da vida real, o silêncio no cotidiano e na hesitação de curtir, compartilhar e expressar certos posicionamentos na rede social e o ciclo que não tem começo, nem fim. 

Por Patrícia Valéria

Um comentário:

Anônimo disse...

Olá, Paty :D
Gostei muito do seu post!
O que você expressou, infelizmente, é, sim, uma realidade. Eu diria que uma das piores. O medo de se expressar, de opinar deve ser terrível...
Viver num mundo onde quem é mais "forte" dita as regras, e muitas das pessoas nem dizerem o que pensam disso, só aumentam a dominação a qual somos expostos.

Abraço.