quarta-feira, 18 de dezembro de 2019

Apenas o essencial





"I went to the woods because I wished to live deliberately, to front ONLY THE ESSENTIAL facts of life, and see if I could not learn what it had to teach, and not, when I came to die, discover that I had not lived". 
Henry David Thoreau


O que for a profundeza do teu ser,
assim será teu desejo.
O que for o teu desejo,
assim será tua vontade.
O que for a tua vontade,
assim serão teus atos.
O que forem teus atos,
assim será teu destino.

Brihadaranyaka Upanishad
IV, 4.5.

O Grande Gatsby - F. Scott Fitzgerald [trechos]


"Aprendemos a demonstrar nossa amizade a um homem quando ele está vivo, e não depois de morto. Quando isso ocorre, tenho por norma não me meter mais no assunto".

"Eles eram gente descuidada, Tom e Daisy: destruíam coisas e pessoas e, depois, se refugiavam em seu dinheiro ou em sua indiferença, ou no que quer que fosse que os mantinha unidos, e deixavam que os outros resolvessem as trapalhadas que haviam feito..."

[perdi os outros trechos]


Bonsai - Alejandro Zambra (trechos)


Julio sabia que estava condenado à seriedade, e tentava, obstinadamente, torcer seu destino sério, passar o tempo na estoica espera daquele espantoso e inevitável dia em que a seriedade chegaria para se instalar para sempre na sua vida.


Ambos tinham quinze anos quando começaram a sair, mas quando Emilia completou dezesseis, e dezessete, o lerdo continuou tendo quinze. E assim por diante: Emilia completou dezoito, e dezenove, e vinte e quatro, e ele quinze; vinte e sete, vinte e oito, e ele quinze, ainda, até os trinta anos dela, pois Emilia não continuou fazendo anos depois dos trinta, e não porque a partir de então tivesse decidido ir diminuindoa idade, mas porque poucos dias depois de completar trinta anos Emilia morreu, e então não fez mais aniversário porque começou a estar morta.


Naquela mesma noite, Emilia mentiu pela primeira vez para Julio, e a mentira foi a mesma, que tinha lido Marcel Proust. No começo, ela se limitou a concordar: Eu também li Proust. Mas logo houve um grande silêncio, que não era um silêncio incômodo, mas expectante, de maneira que Emilia precisou completar a história: Foi no ano passado, não faz muito tempo, levei uns cinco meses, andava atarefada, você sabe, com os trabalhos da faculdade. Mas me propus a ler os sete tomos e a verdade é que esses foram os meses mais importantes da minha vida de leitora.
Usou esta expressão: minha vida de leitora, disse que aqueles haviam sido, sem dúvida, os meses mais importantes da sia vida de leitora.

Em todo caso, na história de Emilia e Julio há mais omissões que mentiras, e menos omissões que verdades, dessas verdades que são chamadas de absolutas e que costumam ser incômodas. COm o tempo, que não foi muito mas o bastante,trocaram confidências sobre seus desejos e aspirações mais íntimos, seus sentimentos desmedidos, suas breves e exageradas vidas. Julio confiou a Emilia assuntos que só o psicólogo de Julio deveria saber, e Emilia, por sua vez, converteu Julio numa espécie de cúmplice retroativo de cada uma das decisões que ela havia tomado ao longo da vida. Daquela vez, por exemplo, quando decidiu que odiava sua mãe, aos quatorze anos: Julio a escutou atentamente e opinou que sim, que Emilia, aos quatorze anos, estava certa, que não havia outra decisão possível, que ele teria feito o mesmo e, claro, se na época, aos quatorze, eles já estivessem juntos, ele com certeza a teria apoiado.


"Tantalia" é a história de um casal que decide comprar uma plantinha para conservá-la como símbolo do amor que os une. Percebem, tardiamente, que se a plantinha morrer, morrerá com ela o amor que os une. E como o amor que os une é imenso e por nenhum motivo estão dispostos a sacrificá-lo, decidem fazer a plantinha se perder entre uma multidão de plantas idênticas. Depois ficam inconsoláveis, infelizes por saber que nunca mais poderão encontrá-la.


Você escreve à mão? Ninguém escreve à mão hoje em dia, observa Gazmuri, que não espera Julio responder. Mas Julio responde, responde que não, que quase sempre usa o computador.
Gazmuri: Então você não sabe do que estou falando, não conhece a pulsão. Há uma pulsão quando você escreve no papel, um ruído do lápis. Um curioso equilíbrio entre o cotovelo, a mão e o lápis.