sábado, 4 de abril de 2020

“tu és a minha vida e um pouco mais.”

“nós sabemos que nem sempre na cama amor teremos e o amor pode ser pleno num abraço.”



Vou ser bastante transparente e honesta. Sempre tentei, fracassadamente, escrever sobre livros. Eu desisti de tentar. Apesar da minha formação, sempre me encontro em dificuldades para expressar sobre o que eu penso de um livro ou uma obra que eu tenha lido ou assistido e etc. Todas as minhas tentativas eram superficiais. Mas vamos lá!

Na ocasião da Flipo 2019 (da qual não estive presente), ganhei um livro de presente com uma dedicatória do próprio autor: “Para Patrícia Valéria com o abraço e a gratidão do Carlos Newton Jr Recife, 20.XII.2019”.



Ressurreição, 101 sonetos de amor foi escrito em um mês e produzido em quatro “enquanto estava me recuperando de uma hemorragia cerebral, e, por isso, o nome ressurreição coube tão bem (...). ...após minha internação, eu me senti muito mais inspirado”, revela o autor para Marcia Rodrigues jornalista publicada pela Folha PE¹.

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O que é um soneto?
“Soneto é uma estrutura literária de forma fixa composta por catorze versos, dos quais dois são quartetos (conjunto de quatro versos) e dois tercetos (conjunto de três versos). Foi provavelmente criado pelo poeta e humanista italiano Francesco Petrarca (1304-1374).”²

Eu li esses sonetos enquanto estava fazendo uma pequena viagem. Minha impressão era de que o narrador estava apaixonado platonicamente por uma mulher misteriosa para o leitor.

E eu me identifiquei com os primeiros versos do primeiro soneto:
“Eis o mistério: a química do amor
a corroer razão e pensamento.
E a vida, transformada num tormento,”
E na última estrofe:
“Há anos te procuro, peregrino
num deserto escaldante e empedernido³,
sem temer solidão, e sede, e fome.”

Este homem sofre porque aquela mulher não está ao seu alcance. É um amor impossível:
“Há que ter paciência, o tempo segue
apaziguando a dor e o desvario.”
“Partiste. Já me acalmo novamente.”
“Ver-te também é triste,” - essa é a minha favorita.
“Lembrar de ti é sempre uma tortura / .../ É mal que não me deixa e não tem cura”

Mas uma das coisas que o autor faz muito bem, é nos dar momentos visuais. Sabe quando você está assistindo a um filme, ou quando você está sonhando e aparece aquelas memórias e cenas meio apagadas e desbotadas? Foi essa a sensação que eu tive lendo alguns versos:
“colar as minhas mãos nas tuas mãos”; “Reter tuas mãos, colar meu rosto às palmas,”, “e eriçam-se os pelos dos meus braços.”; “E um de frente ao outro nós ficamos/ a nos acarinhar só com o olhar,”; “No dia em que as minhas mãos frementes/ puderem afagar os teus cabelos,/ tocar teus ombros com carinho e zelo”; “beijando-te as coxas e os joelhos;”.

Soneto nº 80

E quem nunca já sofreu desse amor? Aqui a gente se identifica com todo o sofrimento e a ternura descritos em cada verso, em cada estrofe de cada um desses sonetos. Ao mesmo tempo que é triste, é muito bonito.

Não preciso dizer que têm muitos outros versos que eu gostaria de compartilhar, mas que não cabem aqui. Estes sonetos são obras que a gente não pendura na parede, mas guarda no coração. Este é um desses livros para se ter, fisicamente, na estante.

“pois quando não te vejo é noite escura.”


* * *


¹ Matéria Folha PE

²
O soneto é um poema de forma fixa que contém quatorze versos distribuídos tradicionalmente em quatro estrofes.

O nome soneto é derivado do italiano sonetto, que poderia ser traduzido como “sonzinho”, “pequeno som” ou “pequena canção”, visto que o sufixo etto é utilizado para diminutivos em italiano.

Tradicionalmente, o soneto apresenta duas variações:

Soneto italiano (ou petrarquiano): forma clássica, composta de dois quartetos e dois tercetos.
Soneto inglês (ou shakespeariano): composto de três quadras e um dístico.

O soneto tradicional é construído em decassílabos: foi neste metro que compuseram tanto Petrarca, responsável por popularizar a primeira variação, quanto Shakespeare, responsável por popularizar a segunda.
Fonte

³
1. que se empederniu; duro como pedra, petrificado.
2.
FIGURADO (SENTIDO)
que não se deixa persuadir; inflexível, contumaz, insensível.

PS: Não achei nenhum link para compra do livro. O livro foi publicado pela Editora Nova Fronteira, mas no site da editora não há opção de compra.