sábado, 12 de julho de 2014

Demian, a história de uma juventude - Interpretação pessoal

O texto a seguir é uma interpretação pessoal da obra "Demian" escrita por Hermann Hesse em 1917. Esse texto fez parte do debate do "clube do livro 2 caras" - grupo lá no Skoob e ele foi escolhido por mim, por sinal. A obra foi selecionada pela Revista Bula como umas das 10 obras que vão mudar a sua vida. 
É importante que você leia a obra para entender. Todos os links úteis estão no final desse post.


Acredito que a intenção de Hermann Hesse nesse romance era o de exprimir as reflexões dos jovens naquela época. Sobre a liberdade, as regras, D’us, existencialismo. E acho que ele conseguiu fazer isso em várias etapas.

A primeira foi a do reconhecimento quando Sinclair quer impressionar os seus ‘amigos’ e acaba se dando mal. E também o de experimentar algo proibido. E, por ser criança, em sua pura inocência, acaba se entregando às ameaças de Kromer e criando sentimentos que só um adulto em apuros teria.
“Muitos se recusarão a acreditar que uma criança de onze anos incompletos possa sentir dessa maneira. Não é para esses que escrevo, mas para aqueles que conhecem melhor o ser humano”.
Esse sentimento que em algum momento a criança irá sentir um dia pode ficar marcado e poderá influenciar em outras etapas da vida. Acho que o sentimento de insegurança e impotência e dependência façam parte disso. A falta de reconhecimento da própria existência, o querer ser quem não é nos pode levar a caminhos solitários.

A questão de negar a existência do Eterno também se torna presente em muitos jovens e foi assim com Sinclair. Mas um ser supremo deu lugar a outro e assim conheceu Abraxas, através de Demian. A negação da dualidade entre “luz e trevas”, “Deus e Diabo”, fez o jovem conhecer um deus mais homem, mais humano, sem dualidades e extremidades. Talvez fosse um escapismo de regras, responsabilidades e escolhas.

Para mim, Demian representa a busca insaciável pelo conhecimento. Mas quando se desprendeu dele, Sinclair encontrou um caminho desregrado da embriaguez. Quando encontrou Pistorius, o personagem que deu lugar à ausência de Demian. Demian suscitava nele interesse pelo conhecimento e pela reflexão. Mas só no fim Sinclair encontra sua autonomia intelectual. Quando Demian se vai, desaparece.


Sinclair teve de negar a educação que vivia em seu seio familiar para encontrar a sua própria educação e disciplina. É o que os jovens fazem. Mas ele tinha uma marca que o tornava especial, diferente dos outros.
E depois o orgulho de se sentir parte dos homens intelectuais, capazes de pensar, refletir e interpretar questionamentos da vida: 
“A descoberta de que o meu problema era um problema de todos os homens, um problema de toda a vida e todo pensamento, pairou sobre mim de súbito como uma sombra divina, e me senti penetrado de temeroso respeito ao perceber o quão profundamente minha própria vida e meu pensamento participavam da corrente eterna das grandes idéias”. 
E depois descobre um mundo de solidão e isolamento. Da qual posso dizer que é uma característica que a maioria dos intelectuais possuem quando não encontram a sabedoria e a plenitude.

"A ave sai do ovo, o ovo é o mundo.
Quem quiser nascer tem que destruir um mundo."

A minha interpretação era que a marca que Sinclair possuía (a marca de Caim) era um símbolo para a inclinação à sabedoria. Demian a busca, e Eva a sabedoria, a plenitude, a resposta para todas as perguntas.

Eu sempre acho que interpreto mal, até porque essa obra fez muito sentido na época. Apesar dela fazer sentido hoje, ela não tem idade. Mas a interpretação que deram na época fez mais sentido.

Fiquei por muito tempo pensando o que eu iria escrever desse livro. Ele não é fácil de se interpretar. Acredito que o próprio Hermann Hesse encontraria várias respostas e interpretações para ele. Vários sentidos.

Demian foi tão importante para Sinclair, assim como Gertrud foi importante para o protagonista. Como também foi assim em Sidarta. A aspiração de si sempre está no outro. Em um guia que tem alguma resposta que não se pode responder sozinho.


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